Porto Alegre e São Paulo são os únicos municípios brasileiros a assinar Catálogo do Clima de Copenhague, documento que reúne o compromisso e metas concretas de mais de 2.800 cidades no mundo para a redução das emissões de gás carbônico (CO2). O documento foi entregue ontem pelo presidente do Iclei - Governos Locais pela Sustentabilidade, David Cadman, durante a Conferência das Nações Unidas sobre Mudanças Climáticas (COP-15), em Copenhague, na Dinamarca.
Para Laura Valente, diretora regional do Iclei no Brasil, o Catálogo demonstra que as lideranças locais realmente estão tomando a dianteira em busca de soluções para a diminuição do aquecimento global. O documento inclui 23 cidades com mais de 5 milhões de habitantes, mas lista também cidades menores, como Kyoto, no Japão, ou a cidade de Herzlya, em Israel, com 58 mil habitantes. Cidades de escalas diferentes assumiram compromissos significativos para a redução de emissões - são mais de 3.200 metas individuais.
Porto Alegre, com 1.436.123 habitantes em 497 quilômetros quadrados, se comprometeu a reduzir em 10% as emissões de CO2 (nos níveis de 2000). A cidade já conduziu um inventário, adotou metas para sua redução, implementou políticas e medidas e monitora resultados. A cidade de São Paulo, com 11 milhões de habitantes concentrados em 7.947 km2, deve diminuir em 30% as emissões de CO2 e se compromete a ter toda a frota de ônibus rodando a partir de energias renováveis até 2018.
A Capital gaúcha está sendo representada em Copenhague pelo secretário municipal do Meio Ambiente, Professor Garcia, que participa também da Climate Submitt Mayors (Cúpula de Prefeitos para o Clima). Os trabalhos da Comissão se iniciaram ontem e seguem até o dia 17, abordando a contribuição efetiva das cidades, como entes individuais, no controle à poluição e às emissões de gases. No encontro de prefeitos, o secretário, que representa o prefeito José Fogaça, fará uma explanação sobre as atividades desenvolvidas na capital gaúcha em relação ao assunto.Porto Alegre é uma das cidades convidadas devido ao destaque ambiental, como o fato de ser uma das capitais mais arborizadas e ter a Secretaria Municipal de Meio Ambiente mais antiga do País, criada em 1976.
A Cúpula de Prefeitos para o Clima tem como objetivo inserir as lideranças locais no topo da agenda de discussões sobre mudanças climáticas e, ao mesmo tempo, dizer ao mundo que a metade da população mundial que vive nas cidades e gera até 80% das emissões globais de CO2 deve assumir sua responsabilidade e liderar pelo exemplo. Promovido pelo Iclei - Governos Locais pela Sustentabilidade, em parceria com o C40 (grupo formado pelas maiores cidades do mundo com o compromisso de combater as mudanças climáticas) e pela cidade de Copenhague, a Cúpula discutirá o uso da tecnologia para a mitigação da emissão dos gases de efeito estufa.
Países africanos abandonam COP-15 para pressionar as nações ricas
Inconformado com a falta de compromisso dos países industrializados, um grupo de negociadores africanos se retirou da reunião que discutia o texto-base do eventual Protocolo de Copenhague. A decisão, que bloqueou a negociação, recebeu o apoio formal da China e do G-77, o grupo dos países em desenvolvimento. Bernaditas Muller, representante do G-77 mais a China, justificou a atitude dizendo que os países ricos estão dificultando as negociações sobre adaptação e financiamento.
E também criticou o papel dos ministros recém-chegados a Copenhague. "A negociação vem ocorrendo há dois anos e todo o trabalho pode ser colocado em risco ao ser decidido por quem não o acompanhou de perto."
Em represália à ação do G-77, EUA, Austrália, Nova Zelândia, Canadá, Japão, Rússia, Ucrânia e Finlândia bloquearam as discussões em outra plenária, sobre o Protocolo de Kyoto. O impasse só foi desatado com a retomada das reuniões sem que um acordo tivesse sido alcançado.
Negociador britânico cobra acordo
Negociadores pressionaram ainda mais para que se alcance um acordo global pelo corte das emissões de gases causadores do efeito estufa. Segundo eles, temas cruciais como as metas de emissões e o financiamento para os países pobres permanecem sem solução, há apenas cinco dias do prazo para se fechar um acordo.
O secretário britânico para Mudanças Climáticas, Ed Miliband, disse nesta segunda-feira que cabe a ele e a seus colegas que estão em Copenhague a elaboração da estrutura de um pacto, e "não deixar tudo" para os 100 líderes que devem começar a chegar na quarta-feira. Um dos presentes na parte final da conferência deve ser o presidente dos EUA, Barack Obama.
Miliband notou que há ainda temas difíceis pela frente, que precisam ser solucionados nos próximos dias. "Nós podemos obter os cortes de emissões que precisamos. Necessitamos de mais ambição dos outros e estaremos pressionando por isso."
Um rascunho de acordo afirma que os países devem juntos reduzir suas emissões em entre 50% e 95% até 2050, e os países ricos devem cortar as emissões em entre 25% e 40% até 2020.
Brasil passa Suécia no topo do Índice de Proteção Climática e fica em quarto lugar no ranking
O Brasil superou a Suécia e aparece em quarto lugar na edição deste ano do Índice de Proteção Climática, divulgado ontem em Berlim por dois grupos de pressão europeus. Entre 57 países avaliados, o Brasil é seguido pela Suécia, pelo Reino Unido e pela Alemanha no topo do ranking. As piores posições são ocupadas por Arábia Saudita e Canadá.
No entanto, a Rede de Ação Climática e a Germanwatch informaram que as três primeiras colocações do ranking ficaram novamente vagas este ano "porque, mais uma vez, nenhum país tomou o caminho de evitar perigosas mudanças climáticas".
Os dois grupos de pressão analisam anualmente 57 nações responsáveis por 90% das emissões globais de dióxido e avaliam seus esforços no combate à poluição.
O índice baseia-se em três fatores: as emissões atuais de gás carbônico, a comparação com os anos anteriores e os esforços políticos e regulatórios tendo em vista a proteção ambiental.
Brasil, Suécia e Reino Unido tiveram as melhores performances do grupo avaliado, segundo o relatório deste ano, elaborado em grande parte com base em dados compilados pela Agência Internacional de Energia (AIE).
A China e os Estados Unidos - os dois maiores emissores de poluentes do mundo - ficaram, respectivamente, nas 52ª e 53ª colocações, mas os autores do estudo destacaram positivamente "o início de uma reavaliação da política climática" pelo presidente americano, Barack Obama. Os EUA ficaram em 58º lugar no ano passado.
As piores posições do ranking são ocupadas por Austrália, Casaquistão, Canadá e Arábia Saudita. Segundo os autores do índice, esses quatro países têm em comum a alta emissão de poluentes e a ausência de mudanças em suas políticas de preservação ambiental.
Braskem fecha parceria para fazer plástico verde
A petroquímica Braskem e a Novozymes, líder mundial na produção de enzimas industriais, anunciaram a constituição de uma parceria em pesquisa para desenvolvimento de polipropileno feito a partir de cana de açúcar. "A Braskem foi a primeira empresa no mundo a produzir e certificar o polipropileno de fonte 100% renovável em base experimental e a parceria com a Novozymes vai impulsionar o desenvolvimento da tecnologia", ressalta o presidente da Braskem, Bernardo Gradin.
O polipropileno é um plástico utilizado em uma ampla gama de produtos de uso diário, desde recipientes para alimentos, canudos para bebidas e garrafas até componentes de máquinas de lavar e geladeira, mobiliário e para-choques de carros. É a segunda resina termoplástica mais utilizada, com um consumo global em 2008 de 44 milhões de toneladas. O mercado é estimado em US$ 66 bilhões, com um crescimento anual de 4%.
Atualmente, o polipropileno é derivado principalmente do petróleo, mas Braskem e Novozymes vão desenvolver uma alternativa verde baseada na tecnologia de fermentação da Novozymes e na expertise da Braskem em processos químicos e termoplásticos. Os resultados iniciais são esperados em prazo mínimo de cinco anos.
"Estamos caminhando para um mundo onde o petróleo é limitado e caro e a indústria química está procurando alternativas para os seus produtos baseados em petróleo. A parceria da Novozymes com a Braskem é um movimento para uma bioeconomia verde, onde a cana-de-açúcar será o novo petróleo", diz o presidente da Novozymes, Steen Riisgaard.
A parceria não é a primeira incursão das duas companhias na bioeconomia. A Braskem está construindo, em Triunfo, uma nova planta de polietileno verde com capacidade de produção de 200 mil toneladas por ano. A Novozymes está produzindo enzimas para transformar resíduos agrícolas em biocombustíveis avançados e firmou parceria para fazer ácido acrílico a partir de matérias-primas renováveis.
(JC-RS, 15/12/2009)