O que faremos se as negociações sobre mudança climática fracassarem e não se conseguir uma redução suficiente de gases contaminantes ou os países não cumprirem as metas? Assim, devemos nos preparar para a geoengenharia, segundo cientistas reunidos em Copenhague. Precisaremos da geoengenharia? “Isso dependerá da COP-15”, disse o oceanógrafo John Shepard, da Universidade de Southampton (Grã-Bretanha).
“Se não podemos reduzir as emissões com a rapidez e a quantidade necessárias, o que mais podemos fazer?”, perguntou Shepard, que participa em Copenhague de reuniões em torno da cúpula do clima, que terminará no próximo dia 18. Shepard é um dos autores do informe “A geoengenharia do clima. A ciência, a governabilidade a incerteza”, divulgado em novembro.
O termo geoengenharia se refere basicamente a intervenções humanas internacionais e em grande escala para produzir alterações no sistema climático planetário, ao contrário das mudanças involuntárias e irreversíveis do clima que a humanidade provocou com suas ações, especialmente desde o começo da industrialização. Shepard, que trabalha na busca de soluções de geoengenharia para minimizar a crise climática, explicou que não gosta da ideia de precisar recorrer à ela. “Isso me dá medo”, confessou.
Mas o cientista acrescentou que, mesmo discordando com o uso de intervenções tecnológicas maciças para mitigar a mudança climática, temos a responsabilidade de buscá-las porque é possível que logo precisemos delas. Os Estados deveriam criar um sistema para gerir e controlar esses tipos de intervenções, recomendou.
Atualmente existem duas opções de geoengenharia. A primeira é a remoção do dióxido de carbono através da fertilização do oceano com ferro, o uso de filtros de gases, árvores artificiais ou carvão biológico. Esta opção pode ser aplicada localmente e apresenta baixos riscos. O problema desta técnica é que levaria muito tempo para absorver a enorme quantidade de carvão já liberado e tampouco impedira sua expulsão para atmosfera. A outra opção é a gestão da radiação solar, que implica refletir a luz do sol para reduzir o aquecimento através de espelhos no espaço, aerossóis estratosféricos ou melhoramento das nuvens.
Este método não reduz a presença de gases-estufa nem mitiga as conseqüências das emissões, com a acidificação dos oceanos. Por outro lado, é uma solução rápida. Quanto ao risco, os cientistas vêem com cautela suas possíveis repercussões nos padrões e ecossistemas climáticos. Para Jason Blackstock, físico pesquisador do canadense Center for International Governance Innovation, a geoengenharia “é uma aposta muito insegura que não queremos fazer”. Concordou com Shepard quanto “a redução das emissões continuar sendo a prioridade, como opção mais segura e previsível”.
Blackstock disse que os cientistas voltados à geoengenharia combatem as opiniões como as do livro “Super Freakonomics”, no qual os autores Steven Levitt e Stephen Dubner afirmam que a humanidade não deve se dar ao trabalho de reduzir as emissões e simplesmente colocar espelhos no espaço exterior. Uma comissão de cientistas de centros de pesquisa dos Estados Unidos e da Grã-Bretanha reunidos em Copenhague na semana passada insistiram que as pesquisas devem ser feitas de maneira responsável e que se deve informar a sociedade internacional sobre o funcionamento da geoengenharia.
Os governos, as organizações internacionais, os centros de pesquisa e cidadãos de todo o mundo devem ter o direito de opinar sobre a geoengenharia, disseram os cientistas. Os mesmos propuseram a apresentação de sugestões sobre regulação das pesquisas e o controle dos instrumentos de manipulação do clima uma vez que sejam colocados em prática. As respostas à geoengenharia devem ser encontradas no diálogo internacional o mais rápido possível, de mãos dadas com a evolução da investigação, afirmaram. O mundo deve ter “um plano B”, ressaltou Shepard.
Porém, também se declararam conscientes de que há interesses criados contrários às medidas de mitigação da mudança climática e que pretendem recorrer exclusivamente à geoengenharia. “É provável que a geoengenharia seja possível tecnicamente no futuro, mas a tecnologia apenas está formada”, explicou Shepard. Tudo acontecerá nas próximas décadas, acrescentou. Mas, uma vez que isso ocorra, as tecnologias de remoção do dióxido de carbono ou a gestão da radiação solar não serão muito caras. Por exemplo, é provável que entre 50 e 100 países possam usar aerossóis estratosféricos, disse Blackstock.
(Por Claudia Ciobanu, IPS / Envolverde, 14/12/2009)