Mesmo com alta do preço nas últimas semanas, álcool mantém ascensão e leva Petrobrás a mudar estratégia
Com crescimento de mais de 20% ao ano, o consumo de etanol no Brasil já provoca grandes estragos no mercado de gasolina, que deve fechar 2009 estagnado. Em São Paulo, por exemplo, o etanol hidratado se consolidou este ano como o principal combustível automotivo, com vendas quase 30% superiores às do concorrente. Tal cenário vem provocando mudanças na estratégia da Petrobrás, que reduziu a produção de gasolina para ampliar a de óleo diesel.
Se em 2008 as vendas de etanol hidratado em São Paulo já haviam empatado com as de gasolina, com 7 bilhões de litros cada, este ano o primeiro leva uma vantagem de 28%. Até outubro, segundo dados da Agência Nacional do Petróleo (ANP), as vendas de hidratado no Estado somaram 6,9 bilhões de litros, ante 5,4 bilhões de litros de gasolina. O desempenho reflete os preços competitivos diante de uma frota bicombustível cada vez maior.
Somando todos os Estados brasileiros, a gasolina ainda leva vantagem (25,2 bilhões ante 16,9 bilhões de litros), mas começa a dar sinais de retração. As vendas do combustível devem fechar o ano com alta de apenas 0,3% com relação a 2008. Mantidas as condições atuais, diz o Sindicato das Empresas Distribuidoras de Combustíveis e Lubrificantes (Sindicom), é possível projetar queda no consumo em 2010.
Seria o primeiro ano de queda desde 2003, quando o mercado de combustíveis despencou. "Pode-se dizer que o freio de mão da gasolina está puxado. Se o etanol mantiver preço competitivo, as vendas de gasolina cairão", afirmou o vice-presidente executivo da entidade, Alísio Vaz. Este ano, o etanol teve vantagem com relação à gasolina na maior parte dos Estados durante quase todo o ano. Nas últimas semanas, com o fim da safra, porém, voltou a subir - na sexta-feira, segundo dados da ANP, era vantajoso em apenas seis Estados.
Mesmo assim, no acumulado do ano, as vendas de etanol hidratado devem fechar em alta de 24,9%. É o maior crescimento entre os diversos combustíveis automotivos, responsável por levar o dado geral do consumo de combustíveis ao recorde histórico de 98,1 bilhões de litros em 2009, alta de 2% em relação ao ano anterior.
(Por Nicola Pamplona, O Estado de S. Paulo, 14/12/2009)