Para o mercado brasileiro de energia eólica deixar de ser apenas uma boa promessa e, de fato, "decolar", o governo precisa pensar a longo prazo, traçando metas para a capacidade instalada e políticas de estímulo à indústria, afirma Steve Sawyer, secretário-geral do Conselho Global de Energia Eólica, em Bruxelas. Ele compara o Brasil à China de 2004 e à Índia de 1998, em termos de organização de mercado. Nos primeiros seis meses do ano, a China acrescentou mais de 4.000 MW à sua capacidade instalada, e a Índia, 700 MW, disse por telefone, de Nova Déli, à Folha.
Folha de S. Paulo - Em qual estágio está o mercado de eólica no Brasil, quando comparado a outros emergentes?
Steve Sawyer - Está começando a decolar. Esperamos o mercado no Brasil decolar já faz um tempo, mas neste ano há muitas construções e, com o leilão de novembro e a legislação passando no Congresso [PL 630/ 03], esperamos que o Brasil esteja próximo do que seria o mesmo estágio da China em 2004 e da Índia de 1998. Mas o país tem sorte de ter a matriz hidrelétrica que tem, então possui uma rede de energia limpa há algum tempo. Agora, com a necessidade de outras fontes, creio que o vácuo possa ser preenchido com vento.
O que impediu o Brasil de avançar antes e o que impede um crescimento mais rápido?
Sawyer - Por muito tempo o país confiou bastante na matriz hidrelétrica, que supre a maior parte das necessidades do país. Mas, nos últimos cinco anos, creio que o país atingiu o limite. Tanto em termos de crescimento dramático da demanda, provocado pela expansão econômica do país, como pelas mudanças climáticas, que estão deixando as hidrelétricas menos confiáveis. Então, há necessidade de novas fontes. Embora haja termelétricas sendo construídas, creio que o melhor é investir mais em energia limpa, como a eólica, e creio que muita gente concordaria comigo, especialmente no Nordeste.
Quais medidas o governo pode tomar para incentivar o setor?
Sawyer - Creio que o leilão é um bom começo. Mas acredito que o principal é ter uma política estável de longo prazo para o desenvolvimento da eólica. O Proinfa foi um início, teve seus problemas. Mas o principal de que o Brasil precisa, na minha opinião, é uma meta de longo prazo que o governo deveria atingir. Por exemplo, tantos megawatts até 2015, ou 2020, ao lado de políticas de longo prazo em termos de preço, acesso a redes de transmissão, desenvolvimento de usinas, o que atrairia realmente muito investimento, interno e externo, e construiria uma indústria de fabricação, instalação e operação. Isso começa a ocorrer.
Sei que grandes "players" têm olhado com atenção o mercado brasileiro e creem que a hora é certa [nas últimas semanas, três fabricantes anunciaram que abrirão fábricas no país, segundo a Abeeólica].
(Por Natália Paiva, Folha de S. Paulo, 13/12/2009)