A iniciativa privada tem dificuldades em influenciar as discussões climáticas em Copenhague por estar distante da negociação e por causa da divisão dos seus integrantes entre os que ganham e os que perdem com as políticas climáticas, disseram executivos na sexta-feira (11/12).
O objetivo da conferência, que envolve governos e cientistas, mas não diretamente os empresários, é definir as diretrizes de um novo tratado climático global, o que deve levar a fortes reduções das emissões de gases do efeito estufa. Os executivos se reuniram em outro local, a vários quilômetros do local do evento da ONU, e admitiram que o lobby das empresas está dividido em relação a medidas que poderiam prejudicar alguns setores, como a indústria de cimento, que usa muita energia, e as empresas de geração elétrica.
"É difícil imaginar uma só voz", disse Jim Rogers, executivo-chefe da empresa Duke Energy. "Na verdade, há muitas vozes. Uma solução de baixo [nível de emissão de] carbono irá tornar isso muito mais difícil. Há coisas básicas, com as quais concordamos: precisamos de um caminho claro adiante, agir agora e [impor] um preço ao carbono."
Analistas estimam que as empresas terão de entrar com cerca de 80% do capital necessário para reduzir as emissões de carbono na economia. "Deveríamos conversar entre nós antes (das reuniões da ONU) e passar nossas mensagens aos negociadores nacionais. O setor de cimento na China não é diferente do cimento na França. Temos muito a aprender com as ONGs", disse Bill Kyte, consultor climático da E.ON e do lobby setorial Eurelectric.
Grupos ambientalistas e de desenvolvimento estão altamente mobilizados nas negociações climáticas, fazendo com que sua voz seja ouvida por meio de protestos e ligações estreitas com os meios de comunicação.
Uma dificuldade na busca por uma voz única no setor empresarial é que os lobbies são muito amplos e estão focados na limitação da ação unilateral. Nesta semana, por exemplo, a entidade Business Europe aconselhou a União Europeia a não aumentar sua meta de redução de emissões até 2020, conforme está cogitando, se não houver um acordo global.
Já a Câmara de Comércio dos EUA perdeu alguns membros ao seu opor ao projeto de lei climática nos EUA, já aprovado por estreita margem na Câmara dos Deputados. A entidade considera que as medidas contidas na lei serão um peso para as empresas. Mas um executivo da Câmara de Comércio disse que a entidade pode apoiar o projeto intermediário que tramita no Senado.
"Talvez a abordagem possa ser algo que forme a base para uma legislação que poderíamos apoiar, mas ainda há muito que resolver", disse Stephen Eule, na primeira reação da Câmara de Comércio à iniciativa apresentada na quinta-feira pelos senadores. "Acho que é uma boa base para começar."
(Por Gerard Wynn, Reuters / Folha Online, 11/12/2009)