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redd conservação da biodiversidade proteção das florestas
2009-12-14

Além da retenção de carbono, biodiversidade tem de ser critério na demarcação de reservas, diz Pimm

Uma análise assinada por alguns dos principais biólogos da conservação do mundo chama a atenção para o possível lado negro dos projetos de Redd (Redução de Emissões por Desmatamento e Degradação Florestal), conceito que pode ser incluído num futuro acordo climático global. Segundo os cientistas, se não forem pensados com cuidado, os planos de Redd podem fazer mais mal do que bem para a biodiversidade.

O britânico Stuart Pimm, professor da Universidade Duke (EUA) e um dos autores do estudo na revista "Current Biology", diz logo de cara que se trata de uma crítica construtiva. "O artigo, na verdade, é bastante esperançoso em relação ao Redd. Só quisemos dizer que os países precisam prestar atenção na biodiversidade ao traçar seus planos nessa área", declarou Pimm à Folha.

A princípio, o conceito de Redd parece a maneira ideal de unir proteção ambiental e luta contra a mudança climática. Reflorestar, é claro, equivale a retirar gases-estufa da atmosfera, já que as árvores em crescimento absorvem CO2, o principal desses gases. Evitar o desmatamento, por sua vez, teria papel importante no esforço contra o aquecimento global, já que 18% das emissões mundiais de carbono estão ligadas à destruição das matas tropicais.

Os atuais debates sobre Redd incluem a possibilidade de os países com grandes áreas de floresta nativa receberem doações dos países industrializados, ou mesmo comercializarem créditos de carbono caso consigam demonstrar redução do desmate.

Hotspots
O problema é que, dentro dos esquemas de Redd, pode ser mais fácil proteger certas áreas do desmatamento do que outras. A grande preocupação, diz o estudo na "Current Biology", é com as áreas denominadas de "hotspots" -ecossistemas que já perderam a maior parte de sua área e, mesmo assim, abrigam uma enorme proporção de espécies endêmicas, ou seja, que só existem neles e em nenhum outro lugar.

O próprio Brasil possui dois hotspots, o Cerrado e a mata atlântica. Evitar o desmatamento nessas áreas, que já são densamente povoadas e totalmente incorporadas à agropecuária nacional, seria muito mais difícil e caro do que aumentar a proteção de áreas na Amazônia, por exemplo.

Outro problema potencialmente sério seria o chamado "vazamento". Nesse caso, evitar o desmate em certas áreas poderia simplesmente levar à "exportação" da devastação para outros locais. Foi o que aconteceu com a criação de grandes reservas na Amazônia peruana: a derrubada acabou sendo simplesmente transferida para ecossistemas vizinhos, contam os pesquisadores.

Apesar dos riscos, Pimm considera que o Brasil tem potencial para obter esquemas de Redd que compatibilizem redução de emissões e proteção da biodiversidade. Ele elogia, o fato de que a diminuição do desmatamento no Cerrado tenha sido incluída na proposta brasileira de redução de emissões. "O ministro [do Meio Ambiente, Carlos] Minc tem mostrado essa preocupação."

Países tentam burlar regras para ampliar áreas plantadas
A preocupação com o que pode acontecer com os projetos de Redd é justificada porque já houve tentativas de manipular o conceito de maneira pouco honesta. Durante reunião preparatória para Copenhague realizada na Tailândia, países africanos liderados pelo Congo brigaram para manter aberta a possibilidade de incluir o manejo "sustentável" de madeira, ou até a substituição de florestas nativas por matas plantadas de eucalipto, dentro dos mecanismos de Redd.

(Por Reinaldo José Lopes, Folha de S. Paulo, 13/12/2009)


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