A polícia da Dinamarca libertou quase todos os manifestantes que foram presos neste sábado (12/12) após confrontos durante a passeata que reuniu cerca de 40 mil pessoas em Copenhague (capital do país). Segundo reportagem no site do diário britânico "The Guardian", dos 968 detidos, apenas 13 ainda estavam presos neste domingo.
Entre os que continuam detidos, dois cidadãos dinamarqueses e um francês devem comparecer a uma audiência, sob a acusação de agredir fisicamente policiais. A polícia de choque da Dinamarca efetuou as detenções depois que alguns participantes da passeata começaram a depredar edifícios no centro da cidade.
A ação da polícia ainda foi criticada por membros de organizações que participaram da manifestação. A líder da Climate Justice Action, Mel Evans, disse que os detidos foram mantidos por horas sem água, cuidados médicos e sem poder usar banheiros. "As pessoas estavam muito assustadas e tiveram que ficar cerca de quatro horas sentadas no chão (...) Foram mantidas no frio e tiveram de urinar nas próprias calças e de ficar em filas, como animais", disse, segundo o jornal, a rede BBC.
Henri Purje, que é membro da organização francesa antiglobalização Attac (Associação pela Taxação das Transações Financeiras e pelo Auxílio aos Cidadãos), estava no grupo que foi levado pela polícia. "Eu estava na última fila quando a polícia passou a agir sem motivo aparente. Parecia que eles queriam apenas levar um bando de pessoas a esmo. Ninguém [entre os manifestantes] estava sendo violento. Não vi ninguém fazer mais que cantar e marchar", disse, segundo o "Guardian".
Um manifestante britânico, Georgy Forshall, disse ao periódico "Observer": "Dois de meus amigos estão entre os detidos. A polícia disse que os manifestantes estavam jogando pedras, mas meus amigos estavam numa fantasia de vaca, não tinham como jogar pedras".
O porta-voz da polícia, Henrik Moeller Jakobsen, disse que alguns dos manifestantes estavam de máscaras durante a manifestação, o que é proibido na Dinamarca. "Havia milhares [de pessoas] na passeata. A polícia sabia que alguns deles eram manifestantes. Alguns estavam jogando pedras e, nesses casos, efetuamos prisões", afirmou.
Manifestação
Dezenas de milhares se manifestaram neste sábado na capital dinamarquesa para exigir dos líderes mundiais um acordo mais ambicioso para a proteção do clima, na Conferência sobre o Clima da ONU (Organização das Nações Unidas).
A passeata ocorreu nas proximidades do Bella Center, centro de convenções que sedia a conferência. Lá, as negociações esbarraram nos interesses divergentes entre países em desenvolvimento e as nações ricas. "Não há um planeta B" e "Mude a política, não o clima" eram algumas das faixas carregadas por manifestantes na capital dinamarquesa. Alguns ativistas estavam vestidos de urso polar e pinguins com placas dizendo: "Salvem os humanos!"
Um boneco de neve inflável gigantesco foi usado para protestar contra a ameaça causada pela queima de combustíveis fósseis que o painel de cientistas do clima da ONU afirma irá trazer desertificação, enchentes, ondas de calor e elevação do nível do mar.
Conferência
Dentro do Bella Center, representantes do Japão, União Europeia e Austrália se uniram à delegação dos EUA para criticar uma proposta de acordo global em que as nações em desenvolvidas deveriam reduzir suas emissões poluentes, mas apenas com suporte financeiro. As nações ricas querem cobrar o corte dessas emissões, mesmo sem ajuda externa.
Os delegados afirmaram ter avançado em algumas frentes, mas as principais decisões sobre cortes de emissões e financiamento para países em desenvolvimento devem esperar até a chegada dos líderes para a cúpula. "Nós conseguimos um progresso considerável nesta semana", disse a ministra dinamarquesa do clima, Connie Hedegaard, que presidiu as negociações.
Os delegados afirmaram que negociadores haviam avançado na elaboração de alguns textos como os que definem novas tecnologias verdes, como energia eólica e solar, que podem ser fornecidas a nações em desenvolvimento e também sobre a promoção do uso de florestas para sequestrar gases de efeito estufa.
(Folha Online, 13/12/2009)