Em dia marcado por manifestações, país-ilha que corre o risco de desaparecer bloqueou negociação. Tentativa de destravar o processo sai do Senado dos Estados Unidos; documento foi apresentado por grupo multipartidário nesta sexta (11/12)
No dia em que manifestantes tomaram as ruas de Copenhague e mais de uma centena de cidades ao redor do mundo pedindo um acordo justo, ambicioso e vinculante no clima, a reunião diplomática que deveria produzir esse acordo foi suspensa. Motivo: Tuvalu, o país-ilha que corre o risco de desaparecer neste século sob mares em elevação, bloqueou a negociação por achar que não havia esforço suficiente dos países.
A mesma impressão foi manifestada neste sábado (12) pela dinamarquesa Catherine, que levou a filha de oito anos e uma amiga, num frio próximo a zero grau, para acompanhar a passeata que saiu da Praça do Parlamento e reuniu ao menos 30 mil pessoas (até 100 mil segundo os organizadores): "Acho que eles poderiam estar fazendo mais".
No dia em que os ministros começaram a chegar para a semana decisiva da COP-15, os diplomatas ainda não conseguiram desatar os principais nós do processo. O maior deles é a questão do financiamento a longo prazo para o combate à mudança climática nos países em desenvolvimento.
Embora muitos acenos tenham sido feitos pelos países desenvolvidos sobre o dinheiro a ser dado até 2012, a própria proposta de texto do acordo, apresentada na sexta-feira, se omite quanto a valores para o período até 2020, quando pelo menos US$ 150 bilhões anuais seriam necessários.
Também ficou clara a indisposição dos países de assumirem sua parcela de responsabilidade. Nas entrevistas coletivas durante a semana, os negociadores tentavam empurrar a culpa uns para os outros: a União Europeia culpava os EUA, que culpavam a China, que culpava os EUA novamente, que culpava os emergentes -e assim por diante.
"Uma semana se passou e estamos em uma situação na qual não conquistamos o suficiente. Se continuarmos nesse ritmo não vamos conseguir atingir o que precisa ser atingido na próxima semana", disse ontem o ministro do Ambiente sueco, Andreas Carlgren.
Uma tentativa de destravar o processo surgiu no final da semana de onde ela era mais necessária: do Senado dos EUA. Um documento de quatro páginas apresentado por três senadores detalha ações americanas contra a mudança climática, abraça um corte de 17% de emissões até 2020 em relação a 2005 (o mesmo nível de redução proposto por Obama, mas menor do que a proposta original do Senado, que falava em 20%) e promete também dinheiro a longo prazo para os países em desenvolvimento.
"Isso indica para o pessoal em Copenhague que nós estamos levando as coisas a sério", disse John Kerry, democrata de Massachusetts que apresentou o plano, ao lado de Lindsey Graham (republicano) e Joe Lieberman (independente). O movimento foi visto como um avanço, já que as chances de um acordo de força legal em Copenhague estão basicamente ligadas ao Senado dos EUA. Enquanto a Casa não votar a lei de mudança climática do país, o presidente Barack Obama não poderá assinar nada que amarre o país a um compromisso de corte de CO2.
Mude a política
No protesto de ontem, dezenas de milhares de pessoas pediram pressa aos negociadores. Cartazes como "Não há planeta B" e "Mude a política, não o clima" eram erguidos na concentração, em frente ao Parlamento. Às 14h (11h em Brasília), sob monitoramento da polícia que cercava o centro de Copenhague, os manifestantes iniciaram uma marcha, que chegou duas horas depois ao Bella Center, onde acontece a cúpula.
A polícia disse que as autoridades também estavam monitorando um protesto não-autorizado de um grupo anticapitalista. Até hoje de manhã, 19 pessoas haviam sido detidas.
(Por Luciana Coelho e Claudio Angelo, Folha de S. Paulo, 13/12/2009)