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rio uruguai hidrelétrica foz do chapecó mata ciliar
2009-12-13

Um aumento no desmatamento das margens do Rio Uruguai e novas construções irregulares foram observadas numa navegação de três dias promovida pela Associação dos Amigos do Rio Uruguai, que reuniu cerca de 40 pessoas. Uma equipe do Diário Catarinense, que há dois anos havia acompanhado a expedição, voltou ao local e verificou que a agressão ao rio continua.

O grupo partiu do porto Goio-Ên, em Chapecó, local que no início da colonização do Oeste catarinense servia de partida para as balsas de madeira que pelo rio Uruguai iam até a Argentina,

A mestre em Gestão e Auditorias Ambientais Claidi Todescatti afirmou que houve um aumento no deslizamento das barrancas do rio por falta de mata ciliar. Ela observou também mais construções irregulares no perímetro urbano e balneários próximos ao rio, onde a ação é proibida por ser área de preservação permanente.

– Isso revela passividade dos órgãos fiscalizadores – acusou.

O comandante da 5ª Companhia de Polícia Militar Ambiental, major Edvar Fernando Silva Santos, considera que o desmatamento é uma das maiores ameaças ao rio.

– A falta de mata ciliar causa erosão, assoreamento e diminui o alimento para peixes frugívoros, como a piava – destacou.

Santos disse que a polícia tem intensificado as ações de conscientização da população e de recuperação dos danos ambientais.

Barragens contribuem para aumento do desmatamento
Além de potreiros que vão até a margem do rio, das lavouras de fumo e milho e do reflorestamento de eucaliptos, a implantação das barragens também causa desmatamento. Trechos de mata virgem ao longo do rio estão no chão.

– É um imenso absurdo – disse um dos ambientalistas.

No entanto, a retirada de madeira é legal e necessária, pois fica na área que será alagada pela hidrelétrica. Já na saída da expedição houve a constatação de que restavam apenas montes de entulhos e tijolos das muitas casas da comunidade de Porto Goio-Ên. As famílias foram retiradas, pois a área será atingida pelo lago da hidrelétrica de Foz do Chapecó, que está sendo construída entre Águas de Chapecó e Alpestre (RS).

No primeiro trecho do trajeto, entre Chapecó e a barragem, quase não vemos moradores na beira do rio. Praticamente todos já foram retirados. É possível ver os marcos na mata, indicando o nível onde a água vai bater quando o lago for fechado, em junho do ano que vem.

Muitas ilhas, que servem de abrigo para aves, como ninhos de garças e biguás, ficarão debaixo d’água. Também vão sumir as corredeiras do rio e uma cachoeira em Nonoai.

Mesmo com o rio cerca de três metros mais alto do que o normal, a Polícia Ambiental encontra redes, esperas e espinhéis, que estão proibidos no período de piracema, quando os peixes sobem o rio para reprodução. Um pintado amarelo e um jundiá são devolvidos ao rio. Mas são apenas alguns que se salvam da pesca predatória, que contribui para diminuir a quantidade de peixes. De acordo com o soltado Antônio José Tonin, só a sua equipe já apreendeu mais de 300 metros de rede desde o início do período da piracema, em outubro.

– Continua a pesca predatória, o desmatamento e a poluição – disse o biólogo Gelso Campos, que recolheu embalagens de agrotóxico utilizadas em lavouras de fumo. Ele afirmou que pouca coisa mudou em relação à expedição realizada havia dois anos.

Canal pode preservar espécies
As entidades que participaram da navegação pelo rio redigiram carta aberta que será enviada às lideranças políticas e comunitárias de Santa Catarina e do Rio Grande do Sul.

Nela, as entidades pedem a construção de um canal lateral na Hidrelétrica de Foz do Chapecó, como existe em Itaipu. O presidente da Associação dos Amigos do Rio Uruguai e Afluentes (AARU), Valmor Danielli, disse que o objetivo é garantir que peixes como o dourado possam continuar com a piracema (deslocamento da foz do rio em direção às nascentes para reprodução).

O superintendente da Foz do Chapecó Energia S.A, consórcio que constroi a hidrelétrica, Enio Schneider, disse que há estudos técnicos que apontam a inviabilidade deste canal. Por isso a empresa se prontificou a construir uma estação de piscicultura que vai garantir a produção de pelo menos 200 mil alevinos por mês, que serão soltos no Rio Uruguai.

Schneider disse que o consórcio também fará a recomposição da mata ciliar. Servidores do Ministério Público Federal acompanharam a navegação. Técnicos do órgão estão fazendo um estudo sobre a necessidade e viabilidade do canal. Caso seja viável, isso será recomendado à empresa. Caso ela não cumpra, poderá ser aberta uma ação civil pública. O MP diz que há construções embargadas na área de preservação permanente do rio. Uma ação padronizada deve ser feita após a aprovação dos planos diretores dos municípios.

Um gigante de 2 mil km que divide três países
O Rio Uruguai é formado pela junção dos rios Canoas e Pelotas, que se encontram em Campos Novos. A partir daí, percorre cerca de 350 quilômetros até Itapiranga, servindo de limite natural entre Santa Catarina e Rio Grande do Sul. Nesse trecho banha diretamente 16 municípios catarinenses.

Depois, serve de limite natural entre Brasil e Argentina por 689 quilômetros, e de fronteira entre Argentina e Uruguai, até desaguar no estuário do Prata. Tem 1.816 quilômetros de comprimento. A Bacia do Rio Uruguai tem 365 mil quilômetros quadrados, sendo 46 mil quilômetros quadrados em Santa Catarina.

A última expedição
A navegação de Chapecó a Itapiranga foi a última. Em junho de 2010, o lago será fechado. A passagem foi difícil devido ao estreitamento do rio, que foi desviado por adufas (aberturas por onde escoa a água e que são reguladas por comportas), localizadas na base do vertedouro da barragem de Foz do Chapecó. Um dos barcos infláveis arrebentou na passagem, e um dos tripulantes cortou o pé e foi levado ao Hospital de São Carlos.

Lei de dia, crime à noite
Quase não foram encontrados pescadores no rio. Isso não quer dizer que a agressão diminuiu, pois quem faz a pesca predatória se esconde quando vê alguma movimentação. O agricultor José Toneto Neto, 62 anos, e seu neto Michel Goldschmit, 21, estavam pescando, mas de forma regular. No período de piracema só é permitida linha de mão. Toneto, que mora em Palmitos, pesca só para comer, não para comercialização. Ele diz que há muita gente que desrespeita a piracema.

– Tem gente que exagera, arma rede escondido, de noite – informou.

Ele considera que a pesca predatória e a construção das barragens são fatores que estão provocando a redução da quantidade de peixes no rio.

– Nos últimos dois anos, diminuiu de 20% a 30% – calculou.

Rio será desviado
Abaixo da barragem da hidrelétrica, num trecho de 20 quilômetros, a paisagem está prestes a mudar. Quando o lago for fechado, a vazão do Rio Uruguai vai reduzir de 70% a 80%, segundo estimativas dos pescadores. A maior parte da água será desviada por dois túneis até a casa de força, localizada em Alpestre, para aumentar a altura da queda e a produção de energia.

Muitos pescadores afirmam que a atividade ficará inviabilizada. O empresário Moacir Tiecher, que tem uma chácara em São Carlos, reclama que no local onde hoje põe seu barco ficará só pedra.

O superintendente da Foz do Chapecó Energia S/A, Enio Schneider, disse que a vazão mínima de 75 metros cúbicos por segundo será mantida. Isso representa 80% da menor média mensal da vazão do rio. Isso num trecho de sete quilômetros até a foz do Rio Chapecó, quando a vazão deve ficar o dobro disso.

A empresa concessionária da obra fará um parque aquático como compensação, mas muitos moradores afirmam que nada compensará a perda ambiental e a alteração na paisagem do Rio Uruguai, que atraía milhares de turistas.

Roteiro de viagem
04/12/09
9h18min: saída do Porto Goio-Ên, em Chapecó
11h35min: parada em Caxambu do Sul para almoço
16h: passagem pela Usina Foz do Chapecó, entre Águas de Chapecó e Alpestre (RS)
17h45min: chegada no Balneário de Pratas, em São Carlos, onde houve o pernoite

05/12
8h15min: saída de São Carlos
9h15min: passagem pela casa de força da Hidrelétrica Foz do Chapecó, em Alpestre
9h30min: passagem pelo Balneário de Ilha Redonda, em Palmitos
11h11min: passagem pela ponte da BR-158, que liga Irai a Palmitos
11h14min: chegada na sede da Safira, em Irai (RS), com almoço
17h: chegada em Mondaí, onde houve o pernoite

06/12
8h: saída de Mondaí
13h: almoço em Pinheirinho do Vale, com visita ao túmulo do tenente Portela
16h: chegada em Itapiranga e retorno para Chapecó

Trecho navegado: 230 quilômetros
Equipes: 40 pessoas em 11 barcos
Pessoas envolvidas nas paradas: 300

Entidades: Associação dos Amigos do Rio Uruguai e Afluentes, Corpo de Bombeiros de Chapecó, Polícia Ambiental de Chapecó e São Miguel do Oeste, Planaterra, Ministério Público Federal de Chapecó, Justiça de Planalto, Rotary Chapecó, Associação Iraiense de Proteção ao Ambiente Natural, Prefeituras de Chapecó, Caxambu do Sul, São Carlos, Irai e Pinheirinho do Vale, RBS TV, Diário Catarinense e revista Destaques

(Por Darci Debona, Diário Catarinense, 13/12/2009)


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