No fim do dia que marcará uma época – o início das grandes audiências contra dois magnatas do amianto, os chefes da Eternit –, o advogado da parte civil Sergio Bonetto diz: "Esse processo é a recomposição de 30 anos de história, para fazer com que o amianto seja colocado de lado em todo o mundo. Une o passado ao presente e ao futuro. É um evento único, de peso internacional". O procurador substituto de Turim, Raffaele Guariniello, ao lado dos colegas Gianfranco Colace e Sara Panelli, conseguiu levar a juízo o barão belga Jean Louis De Cartier De Marchienne e o bilionário suíço Stephan Schmidheiny, que se tornou, enquanto isso, um radical ecologista.
Eles são acusados de desastre ambiental doloso e omissão de cautelas. Estavam na chefia de estabelecimentos da Eternit em Casale Monferrato, Cavagnolo, Rubiera, Bagnoli, na Itália. Não se apresentaram, declarados contumazes, à audiência de abertura de um processo que se anuncia longo, complexo e sofrido. Pelo contrário, havia centenas de pessoas, os parentes das quase 2.200 pessoas mortas pelas "fibre-killer" do asbesto, parte dos 700 doentes com os pulmões devastados pelos mesoteliomas e nenhuma esperança de cura, os habitantes das regiões ainda infectadas com os rejeitos das manufaturas e com os pós assassinos que acabaram nos telhados, jardins, prédios públicos e privados.
E estavam também as delegações que chegaram dos Estados europeus que olham para Turim como exemplo e estímulo. França, Suíça, Holanda, Bélgica. Mineradores, portuários, viúvas, pensionistas. Os rostos dos outros mortos, retratados nos cartazes fixados entre os banners e os slogans em mais línguas, as bandeiras vermelhas da Cgil [Confederação Geral Italiana do Trabalho] e dos sindicatos de base, o pedido de justiça gritado nas bandeiras tricolores, os representantes da associação que reúne operários e vítimas de uma outra tragédia, o incêndio da Thyssenkrupp.
No colégio dos defensores da parte civil apoiados pela Cgil, entraram dois advogados suíços, dois franceses, um alemão, um belga. A multinacional das vítimas, chamaram-na, contra a multinacional do amianto. "Há anos, colaboramos com os colegas italianos – explica Jean Paul Teissonniere – na troca de informações e de experiências. Para a França, esse processo é um modelo: esperamos conseguir fazer entre nós o que está sendo feito aqui. A mobilização dos parentes das vítimas italianas e a procuração contribuíram para mexer as coisas em outros Estados europeus. Há 15 dias, o presidente da Eternit França foi novamente enviado a juízo".
Jean Fermon, advogado belga, acrescenta: "Esperamos que na Bélgica o sindicato se comprometa como o italiano. As multinacionais do amianto, durante décadas, usaram a chantagem ocupacional: trabalhar para morrer, ou viver sem trabalho. Agora, esse processo responde à demanda por justiça".
Para acolher as partes, cerca de 70 advogados, o público e os jornalistas de meia Europa – e para permitir a formalização de 1.600 novas constituições da parte civil, em parte sobrepostas e em parte acrescidas às 716 depositadas na audiência preliminar –, foram organizadas e reunidas em áudio e vídeo quatro salas do Palácio de Justiça e um auditório no palácio vizinho da administração provincial.
A primeira audiência, que começou pouco depois das 10 horas, ocorreu toda sobre questões burocráticas e processuais e sobre o apelo dos presentes. O presidente do Conselho pro tempore, citado como responsável civil de uma senhora de Casale, foi representado por dois advogados do Estado: pediram que ele fosse excluído do processo. O novo prefeito do PDL [Partido Popolo della Libertà] de Casale, epicentro da hecatombe e das tragédias privadas que se tornaram uma batalha coletiva, pensa ao invés sobretudo na imagem. "Destruíram-na. Deverão nos ressarcir".
(Por Lorenza Pleuteri, La Repubblica / IHUnisinos, com tradução de Moisés Sbardelotto, 12/12/2009).