O secretário executivo da Conferência das Nações Unidas sobre Mudanças Climáticas, Yvo de Boer, admitiu nesta quinta (10/12) que praticamente nada avançou na negociação do financiamento de longo prazo para as ações de combate ao aquecimento global. Segundo de Boer, todo o esforço, neste momento, está direcionado apenas para garantir recursos entre 2010 e 2012. “O foco está amplamente concentrado no curto prazo, no dinheiro pronto para ser usado nos próximos três anos”, afirmou. A ideia dos países ricos é investir U$ 30 bilhões nos próximos três anos.
De Boer ressaltou, porém, que o financiamento de longo prazo precisa ser discutido em Copenhague, mas indicou que o assunto pode ser levado para novas rodadas de negociação em 2010. Os países pobres e em desenvolvimento já esclareceram que sem compromissos financeiros dos países ricos, no longo prazo, não existe possibilidade de acordo. O negociador do Sudão, país que preside do G-77, grupo do qual o Brasil faz parte, Lumumba Stanislas Dia-Ping, exigiu que os países ricos definam em Copenhague, pelo menos, um aporte de U$ 200 bilhões anuais.
O sudanês ressaltou que somente os Estados Unidos poderiam entrar com metade desses recursos. “Os Estados Unidos têm uma economia muito bem sucedida. Comparando com os recursos que eles gastaram com a ajuda aos bancos durante à crise financeira, o que seriam U$ 100 bilhões?”, questionou.
O Brasil e a China, principais países em desenvolvimento que atuam nas negociações da Conferência do Clima, também não cogitam firmar qualquer acordo em Copenhague que envolva apenas o financiamento de curto prazo para mitigar a emissão de gases de efeito estufa e adaptar as economias dos países pobres às novas tecnologias, capazes de desacelerar o aquecimento global.
Mas o estrategista chefe da delegação da União Europeia, Artur Runge-Metzger, advertiu que os países ricos não têm em vista qualquer investimento nos valores anunciados pelo G-77. “U$ 200 bilhões é mais do que o mundo investe em desenvolvimento dos países pobres. Não há neste momento projetos [de combate ao aquecimento global] capazes de dar suporte a esse tipo de investimento. Muitos países sequer têm planos ambientais”, disse.
(Por Roberto Maltchik, com edição de Lílian Beraldo, Agência Brasil, 10/12/2009)