Sistema está sendo adotado em cerca de 4,5 milhões de hectares no Estado
Durante a década de 1970, quando os debates sobre a conservação do meio ambiente ainda engatinhavam, os agricultores gaúchos começaram a dar os primeiros passos no desenvolvimento do plantio direto, técnica que tem colaborado para mitigar os efeitos do gás carbônico (CO2) na atmosfera. No momento em que o mundo se concentra em torno das discussões sobre a redução do efeito estufa, durante a 15ª Conferência das Nações Unidas para Mudanças Climáticas (COP-15), o gestor da área técnica da Cooplantio, Dirceu Gassen, destaca os principais benefícios do Plantio Direto, ferramenta que já ocupa mais de 4,5 milhões de hectares no Rio Grande do Sul.
“Os produtores gaúchos já vêm sequestrando carbono há muito tempo, através da redução do uso de máquinas a campo e da substituição das queimadas”, afirma. A eliminação do uso do arado e da grade, práticas do PD, diminuiu a necessidade da entrada de máquinas a campo e, consequentemente, o consumo de diesel.
Para se ter uma ideia, no plantio convencional, é necessário o uso de 61,3 litros de combustível por hectare, volume que no plantio direto cai para 18,6 litros por hectare, ou seja, uma redução de cerca de 40 litros. “São ao todo 180 milhões de litros de diesel a menos utilizados na área total do Estado ao ano e 1 bilhão de litros no Brasil”, reforçou Gassen.
A eliminação das queimadas também é apontada como fator preponderante para reduzir a emissão de gases nocivos ao meio ambiente, conforme destaca o gerente do departamento Agrotécnico da Cotrijuí, Mário Afonso Jung. “As queimadas sempre foram consideradas como principais responsáveis pela emissão de dióxido de carbono na atmosfera”, diz o especialista. Além dos benefícios em relação à redução de CO2, o plantio na palha tende a melhorar a qualidade da água, pois evita o assoreamento e a erosão do solo. Antes da difusão desse tipo de cultivo, as perdas em termos de solo chegavam a 20 toneladas por hectare ao ano. Ao optar por não lavrar a terra, o produtor a mantém mais firme, reduzindo em 96% a erosão, ao mesmo tempo em que mantém a terra fértil e evita o assoreamento. Jung ressalta também os benefícios do aumento da atividade biológica nas áreas com plantio direto, com o restabelecimento das cadeias tróficas. “Observamos que muitos animais voltaram para o entorno das lavouras”, diz.
A adesão dos produtores ao sistema de plantio tem crescido a cada ano. Na região de atuação da Cotrijuí, por exemplo, cerca de 98% dos agricultores aderiram à técnica e têm obtido boas respostas em lavouras de verão e de inverno.
Prorrogada exigência do cumprimento do Código Florestal pelos produtores
O ministro da Agricultura, Reinhold Stephanes, afirmou que o presidente Luiz Inácio Lula da Silva optou por prorrogar o prazo final do decreto sobre o Código Florestal por mais dois anos. Pelo decreto atual, a partir de hoje os produtores rurais que não estiverem em conformidade com a lei estariam sujeitos a sofrer sanções.
Conforme o ministro, a decisão foi tomada porque não haveria tempo suficiente para definir cinco itens básicos que ainda estão pendentes. Stephanes não quis entrar em detalhes a respeito desses cinco pontos. Disse apenas que quatro deles “estão encaminhados” e que o último será debatido entre os Ministérios do Meio Ambiente e da Agricultura, em janeiro. Esse item trata de cultivos às margens de rios, principalmente quando se trata de beira de riacho, segundo Stephanes. “Há essa necessidade porque a mudança está muito brusca de uma lei para outra. Temos de encontrar um meio para que o produtor possa cumprir as novas exigências”, explicou. “Temos de achar formas técnicas para sair dessa situação”, acrescentou.
O ministro salientou que a decisão pela prorrogação do decreto se deu porque não haveria tempo suficiente para levar possíveis alterações ao Congresso Nacional por meio de uma medida provisória e tampouco haveria tempo hábil para se confeccionar um projeto de lei sobre o assunto. Se a decisão de Lula for confirmada, a medida terá de ser definida ao fim do primeiro ano do mandato do novo presidente da República.
O deputado Luis Carlos Heinze (PP-RS) lembrou que a prorrogação prevista no decreto presidencial é de um ano e meio, pois, na prática, serão dois anos, mas o documento trará o período de 18 meses como a data-limite e uma carência de seis meses para adequação dos agricultores e pecuaristas, que já consta do início das sanções
(Por Ana Esteves, JC-RS, 11/12/2009)