Um diagnóstico realizado pela Cáritas Diocesana de Limoeiro do Norte e pela Universidade Federal do Ceará (UFC) detectou os graves problemas pelos quais passa a população residente na Chapada do Apodi, região jaguaribana, localizada no estado do Ceará. O documento, intitulado "Implicações do Agronegócio na Chapada do Apodi", faz uma análise sobre a situação da população, as iniciativas do poder público e as mobilizações sociais.
Famílias desapropriadas para a instalação de projetos; comunidades vivendo com péssimas condições de moradia, saneamento e saúde; avanços das empresas para dentro das comunidades, pulverização aérea que não respeita os limites das comunidades, ausência de descarte correto para embalagens de agrotóxicos e aumento das doenças causadas pela utilização de agrotóxicos são algumas das graves situações mapeadas pelo relatório.
Segundo Pastora Almeida, articuladora das pastorais sociais da Diocese de Limoeiro, em meio a todos estes problemas, atualmente, os mais agudos estão relacionados à ingestão de água contaminada e à pulverização aérea.
"Hoje, a água que é oferecida para o consumo é retirada dos mesmos tanques que levam água para a produção rural. Ela é tratada pelo sistema de água e esgoto, mas não é própria para o consumo. Uma análise das águas subterrâneas da região constatou a contaminação por agrotóxico. Se as águas dos lençóis freáticos já estão contaminadas imagine como está a água que nós consumimos", explica.
Por conta das iniciativas de mobilização da população, o poder público municipal manifestou interesse em colaborar, contudo, até o momento nada foi feito. "O prefeito se reuniu com algumas comunidades e se mostrou interessado em resolver os problemas, mas não fez nada. Ele justificou que o custo financeiro é muito alto. Apresentamos denúncia ao Ministério Público Estadual, mas até agora ainda não tivemos um retorno positivo", esclarece Pastora.
No item em que descreve a atuação dos órgãos públicos, o relatório os descreve como "omissos diante das várias situações de agravo à vida e negligentes no diagnóstico e prevenção". Segundo a articuladora, o apoio que obtiveram partiu da iniciativa de um vereador que propôs a proibição da pulverização área. O projeto de lei está em tramitação e aguarda apenas a sanção do prefeito para entrar em vigor. Caso seja concretizada, a proposta resolverá boa parte dos problemas da população, já que a pulverização aérea é colocada como uma das situações mais graves.
Outro triste capítulo desta história é a situação a qual os trabalhadores da região são submetidos. "Maus tratos e humilhações de superiores dentro das empresas; falta de atendimento médico para os que adoecem; condições insalubres de trabalho; insegurança do trabalho assalariado e desrespeito ao tempo de carência do produto para que os trabalhadores voltem a trabalhar no plantio" foi o quadro encontrado pela Cáritas e pela UFC. De acordo com Pastora, os trabalhadores deram um grande passo ao entrar em greve por melhores condições de trabalho, como a implantação de banheiros.
A população afetada tem se manifestado, mas de maneira um pouco tímida. Isto porque, mesmo conscientes dos problemas causados pelas empresas, muitos dependem delas e de seus projetos. "A população é dividida porque, ao mesmo tempo em que sofre com os problemas,são dependentes das empresas para sobreviver. Diante desta situação estamos procurando fazer um trabalho educativo para mobilizar e pensar em conjunto soluções em oposição ao agronegócio, como a economia solidária", encerra Pastora.
Todas essas questões foram levadas ao Forum Nacional de Combate aos Impactos dos Agrotóxicos, que aconteceu no último dia 30, em Fortaleza, capital cearense.
(Por Natasha Pitts, Adital, 10/12/2009)