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exploração de urânio mineração em terra indígena energia nuclear no brasil
2009-12-10

A Amazônia e seus habitantes estão ameaçados pela mineração de urânio. De fato, já há 30 anos foram descobertas reservas enormes do metal pesado radioativo na Amazônia brasileira (Rio Cristalino, no Pará, Pitinga, no Estado do Amazonas, e na região dos Ianomâmi em Roraima), assim como também no país vizinho Guiana. Mas só agora começou a febre do urânio na região. À procura de jazidas mais produtivas, atualmente várias mineradoras perfuram o solo da Guiana com equipamento pesado.

Somente a companhia canadense U308 assegurou os direitos de exploração em 1,3 milhões de hectares de terra na Guiana nas regiões de Aricheng e Kurupung. A empresa Takatu Minerals explora urânio na região de Amakura, no norte da Guiana. Em janeiro do corrente, as primeiras equipes de exploração da U308 tiveram sucesso: conforme informações da empresa, acharam uma jazida promissora com mais de 3000 toneladas do minério perto da Bacia de Roraima. No entanto, a empresa calcula em mais de 150000 toneladas o urânio extraível na região.

Procura no Brasil
Não só a Guiana, mas também o Brasil planeja aproveitar suas reservas de urânio na Amazônia. Conforme dados da indústria nuclear nacional (Indústrias Nucleares do Brasil – INB) no sul do Estado do Pará, perto de Rio Cristalino, existem reservas de 150000 toneladas de urânio. Outras 150000 toneladas encontram-se supostamente no Estado do Amazonas, perto de Pitinga, nas proximidades da reserva dos índios Waimiri-Atroari. Há a expectativa de haver jazidas ainda maiores no Estado de Roraima, no norte da Amazônia, na região tradicional dos Ianomâmi. O Governo do Presidente Inácio Lula da Silva prepara já desde 2007 um projeto de lei que futuramente deve autorizar e regulamentar a mineração industrial em regiões indígenas.

No entanto, as experiências de longos anos dos EUA, do Canadá, da Austrália, da Índia e do país africano Níger demonstram o seguinte: minas de urânio causam a intoxicação química e radioativa de mineradores e populações locais, contaminam o meio ambiente e principalmente as reservas de água. “Onde há urânio, as pessoas sofrem”, diz a especialista em urânio alemã Inge Lindemann.

E a coalizão canadense contra minas de urânio “Ottawa Coalition Against Uranium Mining” (OCAMU) adverte: “Os resíduos nucleares da mineração de urânio causam vários tipos de câncer e malformações”. Já a exploração é considerada uma ameaça para o homem e o meio ambiente. Desmatam-se faixas de florestas virgens, transportam-se equipamentos pesados de perfuração e as perfurações experimentais podem estabelecer o contato entre camadas de urânio e o lençol freático, contaminando a água subterrânea. Conforme a OCAMU, exploração significa desmatamento, perfurações e explosões.

No Canadá, onde as conseqüências da mineração de urânio há décadas são notórias, os índios Algonquin lutam, desde 2007, de forma maciça contra a exploração e extração deste metal no seu território. “Prospecção e minas de urânio vão destruir as nossas terras e fazer com que seja impossível viver das nossas terras”, diz o movimento popular Algonquin Alliance of Ardoch Algonquin First Nation & Shabot Obaadjiwan First Nation.

A população indígena de Roraima também não quer a mineração. Antes de mais nada os Ianomâmi defendem-se contraqualquer projeto de mineração nas suas terras. Por este motivo também reprovam o novo projeto de lei do governo Lula, destinado a viabilizar a mineração industrial em reservas indígenas.

Assassino do clima
A causa da nova febre de urânio é, por um lado, a construção anunciada de novas usinas nucleares no Brasil, na China e também na Europa e, por outro, a expectativa de uma alta dos preços no mercado internacional de urânio – turbinada pelo argumento falso de que a energia atômica proteje o clima. Mesmo que não haja emissões diretas de CO2 das usinas atômicas, a energia nuclear não beneficia o clima de maneira alguma.

O aproveitamento da energia atômica na verdade gera quantidades notáveis de gases de efeito estufa. A mineração de urânio, a produção do insumo yellowcake, transporte, construção de reatores, enriquecimento do urânio, produção das varas de combustível nuclear, “tratamento do lixo nuclear”, tudo isto, conforme o cientista e especialista em energia atômica sul-africano David Fig, contribui de maneira significativa para as emissões de gases de efeito estufa.

O balanço de CO2 terá saldo ainda pior caso, como no Brasil, florestas sejam sacrificadas por minas de urânio. A mineração industrial, principalmente quando se trata de urânio, motiva não apenas a construção de ruas, portos e conjuntos habitacionais para os trabalhadores, o que leva diretamente ao desmatamento. A extração do minério de urânio requer, igualmente, grandes áreas para o entulho radioativo.

Por último, os trabalhos da mineração, a moagem do minério e o processamento do mesmo para yellowcake consomem grandes quantidades de energia, o que na Amazônia pode causar mais desmatamentos para a construção de barragens, nocivas para o meio ambiente, destinadas à produção de energia elétrica.

(Por Norbert Suchanek, com tradução de Frank Sabitzer*, EcoDebate, 10/12/2009)

* Embaixada do Brasil em Berlim


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