Quatro irmãos morreram soterrados em Santana de Parnaíba; na capital, o paulistano enfrentou 128 km de lentidão às 9h e zero às 15h; para Kassab, não houve caos, mas Tietê e Pinheiros transbordaram pela 2.ª vez em 3 meses
A maior chuva em dois anos deixou 6 mortos e pelo menos mil desabrigados na Grande São Paulo. Entre 10h de segunda-feira (07/12) e 10h de ontem, a precipitação no Mirante de Santana, conforme o Instituto Nacional de Meteorologia (Inmet), foi de 99,7 milímetros - quase metade dos 202 mm esperados para dezembro. A explicação meteorológica para tal fenômeno é a "chuva frontal", resultante do encontro de duas massas de ar: uma fria e seca com uma quente e úmida.
Com o recorde do ano, toda a capital ficou em estado de atenção das 3h14 às 15h25. Além do transbordamento dos Rios Tietê e Pinheiros, houve o extravasamento do Córrego Três Pontes, em Itaim Paulista, e do Ribeirão dos Meninos, no limite de São Paulo com São Caetano do Sul. A lentidão chegou a 128 km no pico da manhã - houve 105 pontos de alagamento na capital, 26 intransitáveis.
As pessoas ficaram ilhadas em estações de trem, metrô, pontos de ônibus e antes mesmo de sair de casa. Mulheres andaram com o sapato de salto nas mãos, homens amarraram sacos plásticos nas pastas, motoboys, acostumados com desafios, tentavam, mas nem sempre conseguiam, vencer as águas que tomaram as vias. A capital brasileira que tem fama de "acordar cedo" teve de adiar o início do expediente para 13h em vários locais.
Pela segunda vez em três meses a calha bilionária, concluída há quatro anos para conter as enchentes do Tietê, foi insuficiente. Para especialistas, a falta de manutenção e de investimento para finalizar o projeto, que já custou mais de R$ 1,7 bilhão, levaram ao transbordamento do rio. No primeiro pronunciamento sobre os estragos, porém, o prefeito Gilberto Kassab (DEM) ainda tentou negar que a chuva tenha causado muitos transtornos. "Não foi o caos, a chuva foi é muito intensa", afirmou. À noite, o governo do Estado disse que falhas em bombas hidráulicas, de responsabilidade da Prefeitura, contribuíram para os alagamentos.
(O Estado de S. Paulo, 09/12/2009)