A rotação dos aerogeradores de Copenhague e o balé das bicicletas nas ruas estão lá para provar: a 15ª Conferência das Nações Unidas sobre o clima não poderia encontrar palco mais favorável ao desenvolvimento sustentável. Pelo menos é essa a imagem que a prefeitura social-democrata e o governo de direita da Dinamarca procuram compor para si, com o reforço de grandes operações de divulgação e publicidade.
"Nós decidimos muito cedo utilizar a conferência para fazer de Copenhague uma marca verde, um trunfo na competição entre metrópoles", reconhece Klaus Bondam, secretário do meio ambiente. Símbolo e slogan dessa etiqueta ecológica: a cidade se comprometeu, em março de 2009, a se tornar em 2025 a primeira capital do mundo "neutra em carbono". Em outras palavras, ela deve reduzir suas emissões anuais de CO2 de 2,5 milhões de toneladas para 1,15 milhão e compensar o resto com investimentos verdes.
Exemplo Copenhague já reduziu suas emissões de CO2 em 20% nos dez últimos anos e 37% dos habitantes vão trabalhar ou estudar todos os dias de bicicleta (são 560 mil bicicletas para 519 mil habitantes!). Quase 15% da eletricidade sai de aerogeradores e 98% dos imóveis são conectados a uma eficiente rede de aquecimento urbano
Copenhague não está partindo do nada. A cidade da Pequena Sereia já reduziu suas emissões de CO2 em 20% nos dez últimos anos e 37% dos habitantes vão trabalhar ou estudar todos os dias de bicicleta (são 560 mil bicicletas para 519 mil habitantes!). Quase 15% da eletricidade é produzida por aerogeradores e 98% dos imóveis são conectados a uma eficiente rede de aquecimento urbano. Resultado: "Um habitante de Copenhague emite menos de 5 toneladas de CO2 por ano, contra 10 toneladas por um dinamarquês médio, 20 toneladas por americano", comemora Bondam.
Para atingir seu objetivo midiático, a cidade a princípio visa uma redução extra de emissão de CO2 de 20% até 2015. Como? Elevando a porcentagem de ciclistas para 50%, melhorando o isolamento dos prédios, aumentando a oferta de transporte coletivo... mas, sobretudo, fazendo passar sua produção de energia pelas fontes renováveis, uma vez que 73% da eletricidade da cidade é hoje gerada por carvão, gás natural ou petróleo.
Dito e feito? Não é tão simples assim. As companhias de energia não parecem ter pressa de iniciar a mudança almejada. E o projeto da maioria social-democrata virou alvo dos seus aliados da Aliança vermelho-verde, terceira maior força política da cidade. "Elementos como a reciclagem, na qual somos muito ruins, são esquecidos", explica Morten Kabell, conselheiro municipal e porta-voz da Aliança vermelho-verde para o Meio Ambiente e o Urbanismo.
Mas o verdadeiro ponto de atrito são os transportes: "Todos os dias, 250 mil carros transitam pelo centro da cidade. A prefeitura quer cavar um túnel de 10 quilômetros sob o porto, um projeto de 3 bilhões de euros, que aumentará o tráfego de automóveis em 15%. Pelo mesmo valor, poderiam ser feitas todas as linhas de metrô e de bonde que estão arquivadas e diminuir o número de carros em 20%. Não farão os dois, é preciso escolher".
Virgindade ecológica
Levando em conta esses debates, as festividades climáticas promovidas pela administração na praça da Prefeitura, graças ao patrocínio de companhias de energia e da Coca-Cola, fazem os ecologistas rangerem os dentes. Mas não tanto quanto os novos hábitos do governo dinamarquês, abertamente acusado pelo Greenpeace e pela Aliança vermelho-verde de comprar para si, a um bom preço, uma virgindade ecológica ao organizar a conferência da ONU.
"Em matéria de energias renováveis, não acontece mais nada desde que a coalizão de conservadores e liberais chegou ao poder em 2001", garante Tarjai Haaland, do Greenpeace.
O país tinha, no fim de 2008, 5.104 turbinas eólicas para uma potência total de 3.163 megawatts. Mas entre 2004 e 2008, somente 104 novos aerogeradores foram implantados, para 394 turbinas antigas desmanteladas... Pior, o governo dinamarquês autorizou a empresa Dong Energy, em junho de 2008, a passar para carvão algumas centrais de biomassa.
As centrais de carvão fornecem 59% da eletricidade do país e a Dinamarca figura em 15º lugar no ranking mundial do consumo de carvão por habitante. Um carvão totalmente importado, de 8 a 10 milhões de toneladas ao ano.
(Por Grégoire Allix*, Le Monde / UOL, 09/12/2009)
*Tradução: Lana Lim