Talvez eu seja um ingênuo, mas estou otimista quanto ao diálogo sobre o clima que começa nesta segunda-feira, em Copenhague. O presidente Barack Obama planeja comparecer no último dia da conferência, o que sugere que a Casa Branca espera progressos reais. Também é encorajador ver que os países em desenvolvimento – incluindo a China, o maior emissor de dióxido de carbono (CO2) do mundo – concordam com a ideia de que são ao menos parte da solução.
Claro que se as coisas forem bem em Copenhague os desconfiados habituais ficarão enlouquecidos. Ouviremos lamentos de que toda a noção de aquecimento global é um mito perpetrado por uma vasta conspiração científica, como é difundido em e-mails roubados de cientistas que mostram que, bem, na verdade todos mostram que eles são humanos, mas não importa. Contudo, também ouviremos reclamações de que as políticas climáticas vão acabar com empregos e com o crescimento.
No entanto, a verdade é que cortar as emissões de gases estufa é algo acessível e também essencial. Importantes estudos dizem que podemos conseguir níveis concretos de redução nas emissões com um pequeno impacto no crescimento econômico. E a recessão econômica não é razão para esperar – pelo contrário, um acordo em Copenhague provavelmente ajudaria na recuperação econômica.
Por que você deveria acreditar que o corte de emissões é sustentável? Primeiro, porque os incentivos financeiros funcionam.
Caso ocorram, as medidas climáticas se adaptarão ao formato do “Comércio de Emissões”: as empresas não terão regras sobre como produzir ou o quanto, mas eles terão de comprar licenças para cobrir suas emissões de CO2 e outros gases estufa. Então, eles terão permissão para aumentar seus lucros caso consigam emitir menos carbono – e há muitas razões para que se acredite que eles serão criativos e espertos o suficiente para encontrar formas de fazê-lo.
Assim como mostrado em um estudo recente da McKinsey & Co., há muitas formas de reduzir as emissões com despesas relativamente baixas: melhorar o sistema de isolamento (método usado em países de inverno rigoroso), veículos mais econômicos, maior uso de energia solar, eólica e nuclear, além de muitos, muitos outros. E você pode ter certeza que dado os direitos de incentivo, as pessoas acharão muitos artimanhas que o estudo não abordou.
A verdade é que os conservadores que prevêem a ruína da economia caso haja um combate às mudanças climáticas estão traindo seus próprios princípios. Eles afirmam acreditar que o capitalismo é infinitamente adaptável, que a mágica do mercado pode lidar com qualquer problema.
Mas por alguma razão eles insistem que o “Comércio de Emissões” – sistema desenhado especificamente para que o mercado de incentivos tenha poder sobre os problemas ambientais – não funciona.
Bem, eles estão errados – de novo. Já ouvimos isso antes. As controvérsias sobre a chuva ácida em 1980 foi, em muitos aspectos, um ensaio para a luta atual contra a mudança climática. Tanto naquela época como agora, os ideólogos de direita negaram a ciência. E assim como agora, grupos industriais afirmaram que qualquer tentativa de limitar as emissões implicaria danos penosos à economia.
Mas, em 1990, os EUA seguiram com o sistema de comércio de emissões para o dióxido de enxofre (SO2). E funcionou, resultando em uma redução consistente na poluição a um custo mais baixo do que o previsto.
Limitar os gases estufa será uma tarefa muito maior e mais complexa – mas é possível que fiquemos surpresos com o quão fácil será assim que começarmos.
A Comissão de Orçamento do Congresso estima que em 2050 os limites de emissão propostas na legislação atual reduzam o PIB entre 1% e 3,5% do que seria caso não houvesse. Se dividirmos os números teríamos que os limites de emissão desaceleraria o crescimento anual econômico nos próximos 40 anos em cerca de um vigésimo de um ponto percentual – de 2,37% a 2,32%.
Isso não é muito. Mesmo que a experiência da chuva de ácido sirva como noção, o custo verdadeiro das medidas de hoje deve ser ainda bem menor.
Apesar disso, será que deveríamos começar esse projeto durante uma recessão econômica? Sim, deveríamos – de fato, essa é uma época especialmente boa porque a expectativa da legislação climática poderia incentivar ainda mais os gastos em investimentos.
Considera, por exemplo, o caso do investimento em prédios comerciais. Hoje, com as taxas de vacância se elevando e de aluguéis caindo, não há muita razão para construir novos prédios. Mas suponha-se que os proprietários de prédios já existentes percebam que nos próximos anos haverá o crescimento de incentivos para torná-los sustentáveis. Então, isso os levaria a iniciar um reequipamento agora que está mais fácil encontrar trabalhadores e o preço dos materiais estão baixos.
A mesma lógica se aplicaria para muitas áreas da economia, então é possível que no geral a legislação climática signifique mais investimentos. E mais gastos em investimentos é exatamente do que a economia precisa.
Então, esperemos que meu otimismo sobre Copenhague seja justificado. Caso a conferência resulte em um acordo, ele salvaria o planeta a um custo facilmente acessível – e, na verdade, isso nos ajudaria com os atuais problemas econômicos.
(Por Paul Krugman, The New York Times / Último Segundo, 08/12/2009)