Vento Sul represou excesso de água da chuva que rios despejaram na laguna
Para atravessar a Rua Marechal Deodoro, em Rio Grande, em vez de caminhar, Eduardo Pierre, 22 anos, precisou remar. Sentado em um pedaço de isopor improvisado como barco, ele cruzou a via, tomada pelas águas da Lagoa dos Patos.
Alaguna transbordou no sábado, recuou no domingo e avançou novamente na manhã de ontem, alagando ruas em diversos pontos da cidade. Ilha da Torotama, Ilha dos Marinheiros, Vila Dias, bairros Cidade Nova, Navegantes e Centro ficaram com vias interditadas. O cais do Porto Velho sumiu, dificultando a navegação.
Em São José do Norte, do outro lado da laguna, o problema também aconteceu. As águas subiram por uma quadra, tomando galpões. O cais sumiu a atrasou o transporte hidroviário entre Rio Grande e São José do Norte. A Defesa Civil dos dois municípios mobilizou suas equipes.
Moradores ergueram barricada contra cheia
As precipitações de novembro e a direção do vento explicam a cheia, segundo o oceanólogo Lauro Calliari, professor da Universidade Federal do Rio Grande (Furg). Como choveu 300 milímetros no mês passado, três vezes acima do previsto, rios como Jacuí, Sinos, Gravataí, Caí, Taquari, Camaquã e Piratini trouxeram mais água do que o normal para a Lagoa dos Patos.
A ordem natural seria o excedente ganhar o Oceano Atlântico por meio do canal da barra de Rio Grande. No entanto, o vento Sul represa as águas desde desde sábado. Cheia, a laguna invade Rio Grande e São José do Norte, que ficam no nível do mar.
– Esta é a Maré Meteorológica. Não é provocada pela astronomia, mas por tempestades – diz Calliari.
A cheia atormenta os moradores das ruas alagadas. Em Rio Grande, na Marechal Deodoro, onde a água subiu por duas quadras e invadindo diversas casas, a aposentada Zilá dos Santos pôs sacos com areia entre as portas, porém sem sucesso. Foi obrigada a calçar todos os móveis com tijolos e retirar o excesso d’água com baldes.
– É tentar salvar os móveis e esperar que a água baixe – lamentou Zilá.
(Por Guilherme Mazui, Zero Hora, 07/12/2009)