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BNDES indústria farmacêutica
2009-12-07

Banco quer entrar como sócio em companhias e incentivar abertura de capital para criar grupos maiores

Preocupado com o risco de desnacionalização do parque farmacêutico brasileiro, o Banco Nacional de Desenvolvimento Econômico e Social (BNDES) vai mudar sua estratégia para estimular fusões no setor. Por meio da BNDESPar, o banco quer entrar como sócio em companhias que se disponham a abrir capital, um atalho para criar grandes farmacêuticas nacionais. Nas contas do BNDES, empresas mais robustas, com faturamento anual acima de R$ 3 bilhões, teriam melhores condições de resistir ao assédio das multinacionais, cada vez mais atraídas pelos bons resultados dos laboratórios nacionais.

Experimentando um novo patamar depois da explosão do mercado de genéricos, as farmacêuticas brasileiras não viram a crise. No ranking do IMS Health, que faz consultoria e auditoria para o setor, o laboratório brasileiro EMS assumiu a liderança do mercado brasileiro este ano, ultrapassando a multinacional francesa Sanofi-Aventis (ver abaixo). Outros dois laboratórios nacionais, Aché e Eurofarma, também figuram entre os cinco primeiros colocados, juntamente com a Medley, que agora pertence à Sanofi.

Foi justamente a venda da empresa para o grupo francês, em abril, que acendeu o sinal amarelo no BNDES. O negócio de R$ 1,5 bilhão impôs nova redução da fatia das empresas brasileiras no mercado, que havia saltado de 28,2%, em 2000, para 43% no ano passado. Desde então, multinacionais rondam as brasileiras. A Pfizer, por exemplo, negociou com a Neo Química, que deve manter o capital nacional numa venda para o grupo Hypermarcas ? o negócio deve ser anunciado esta semana.

"O País virar alvo internacional traz oportunidades, mas também riscos. O risco que o BNDES vê é uma desnacionalização precoce da nossa indústria. O exemplo da Medley pode não ser o único", teme Pedro Palmeira Filho, gerente do Departamento de Produtos Químicos e Farmacêuticos do banco.

Desde que criou, em 2007, um programa para o desenvolvimento da indústria farmacêutica nacional, o Profarma, o BNDES tenta aumentar a concentração no setor, mas esbarra no perfil familiar predominante nas farmacêuticas brasileiras. As negociações emperram quando se discute quem vai mandar na empresa resultante de uma união. Por isso, o banco de fomento quer entrar nos laboratórios para, por dentro, ajudá-los a se tornarem players mais agressivos. "É um processo longo. É difícil convencer o fundador que criou aquele negócio do nada que é melhor ser sócio de uma empresa muito maior do que mandar sozinho numa pequena", diz Palmeira.

Ele diz que o BNDES não quer criar uma "superfarmacêutica brasileira" ? como aconteceu nas operações envolvendo Sadia e Perdigão e Oi e Brasil Telecom ?, mas empresas que alcancem uma escala com alguma inserção internacional e capacidade de investir de forma mais consistente no desenvolvimento de novos produtos, vital para a sobrevivência no setor.

"A história tem mostrado que as filiais de multinacionais não fazem esse tipo de desenvolvimento, importam tudo", diz Palmeira. "Para nós, uma empresa com faturamento entre R$ 3 bilhões e R$ 4 bilhões já é de um porte considerável para a aposta em inovação de forma sistemática e para almejar inserção global."

Profissionalização
Mesmo resistindo às fusões, as principais empresas brasileiras estão seguindo a receita da profissionalização. A Aché reorganizou os herdeiros numa holding e os acomodou num conselho, adotou governança de empresa aberta e divulgou balanço em 2008, com receita bruta de R$ 1,9 bilhão, 17% maior do que a de 2007. Investe na pesquisa de fitoterápicos e já comercializa produtos desse desenvolvimento. Já a Eurofarma persegue a expansão internacional. Ao comprar recentemente um laboratório na Argentina, definiu a meta de fazer uma aquisição por ano na América Latina para atingir 90% desse mercado em 2015.

A EMS também passou a divulgar resultados e o herdeiro Carlos Sanchez sai aos poucos de cena. Tirou pelo menos cinco profissionais de multinacionais, entre eles o vice-presidente de mercado, Waldir Eschberger Júnior, que estava à frente da filial brasileira da italiana Zambon. A empresa comprou um laboratório na Itália e empresas comerciais na Espanha e em Portugal para exportar para a Europa e já manda para lá 5% de sua produção.

Segundo Palmeira, o BNDES já iniciou as conversas com as principais empresas nacionais, argumentando que a injeção de capital por meio da sociedade com o banco poderá dar mais velocidade às estratégias de crescimento das empresas e reforçar a tese das fusões. "Existem algumas conversas com grandes empresas, mas ainda muito incipientes. E não é qualquer união que interessa. Se os parceiros têm o mesmo portfólio, provavelmente uma fusão vai gerar perda de valor. O ideal é que elas se complementem", diz.

(Por Alexandre Rodrigues, O Estado de S. Paulo, 07/12/2009)


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