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cop/unfccc plano climático onu
2009-12-07

Encontro começa hoje em Copenhague recebendo mais que o dobro do número de participantes previsto inicialmente

Secretário da convenção do clima pede metas a países ricos, transparência a países pobres e definição sobre pacotes de ajuda financeira.

Ainda não se sabe se a conferência do clima que começa hoje em Copenhague com a ambição de salvar o planeta será a "virada" histórica que o secretário-executivo da Convenção do Clima da ONU, Yvo de Boer, reivindica dos líderes mundiais. Mas um sucesso o encontro que vai até o próximo dia 18 já pode contar: o de público.

Segundo os organizadores da chamada COP-15, entre membros das delegações nacionais, de organizações não-governamentais, de entidades internacionais e da mídia, 34 mil pessoas pediram credenciais para os eventos oficiais. No Bella Center, sede da conferência, cabem 15 mil. Tal público não era esperado, e os problemas já pipocaram (leia texto abaixo).

Não foi à toa que Michael Cutajar, do grupo de trabalho de Ações Cooperativas de Longo Prazo, chamou a COP-15 de "maior show da Terra". Ressaltar a atenção sobre o evento foi o meio de exortar os 96 chefes de Estado que anunciaram sua presença na próxima semana -Luiz Inácio Lula da Silva entre eles- a fecharem um compromisso, ainda que este, como anunciado pelos líderes, não tenha força legal.

A mensagem parece ter tido eco. Barack Obama decidiu postergar sua ida, antes planejada como uma escala de viagem rumo a Oslo na quinta, para se reunir com os demais chefes de Estado só na semana que vem. Ontem o indiano Manmohan Singh confirmou sua ida.

"As pessoas estão aqui para negociar", disse De Boer em entrevista coletiva ontem, na qual celebrou a decisão de Obama ("É importante ele ouvir as preocupações dos pequenos países insulares e dos países em desenvolvimento") e cobrou-lhe ação mais efetiva ("Espero que venha com uma meta ambiciosa para os EUA e um forte compromisso financeiro").

A meta de redução de emissão de gases-estufa dos EUA para 2020, 17% sobre 2005, representa redução em torno de apenas 5% sobre 1990, o ano-referência. E é um dos impasses no legislativo americano.

Mas o holandês De Boer repetiu seu novo mantra de que a COP-15 deve se ater a objetivos "simples" e evitou avaliar metas citadas ou aventadas por países ricos e grandes emergentes (o Brasil propõe corte de até 39% no crescimento de emissões previsto até 2020).

Papai Noel

Mas De Boer não foi de todo modesto. "Quero uma lista de metas ambiciosas dos países ricos; claridade sobre o que os países em desenvolvimento vão fazer para limitar o crescimento de suas emissões e uma lista de promessas financeiras que tornem possível, para um escopo mais amplo de nações em desenvolvimento, reverter a direção de seu crescimento econômico e se adaptar ao impacto inevitável da mudança climática", declamou. "É isso que eu pedi ao Papai Noel."

Por ora, para ter os três itens da lista seria preciso um milagre natalino. As metas dos ricos variam entre inócuas (em relação ao que já tem sido feito) e insuficientes; os grandes países em desenvolvimento carecem de planos de ação consistentes -e nos casos da China e da Índia, de metas que realmente cortem as emissões-; e as promessa de ajuda aos países menores são vagas, quando não maquiadas.

Uma discussão de dois dias sobre uma estratégia de negociação comum para a China e os países em desenvolvimento do G-77 patinava ontem sem consenso, segundo delegados que deixavam a sala entediados.

Para piorar, De Boer ainda é confrontado com o "climagate" -os e-mails de climatologistas recém-vazados nos quais céticos do aquecimento global veem prova de uma conspiração dos cientistas para atribuir causa humana ao fenômeno.
O holandês disse que o episódio será tratado no evento, mas que a conclusão sobre a culpa humana não está em discussão. Ela está "em quatro relatórios do painel do clima da ONU, que indicam tendência constante".

(Pro Luciana Coelho, Folha de S. Paulo, 05/12/2009)


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