Levante a mão aquele que nunca deixou nada para fazer na última hora. Seja na faculdade, ao deixar aquele trabalho para ser feito na véspera da entrega, ou ao arrumar a mala com poucas horas antes de embarcar no avião ou mesmo ao comprar os presentes do natal justamente no dia em que as lojas estão mais abarrotadas de gente, dia 24 de dezembro.
Nas negociações internacionais para decidir quem irá fazer o quê para controlar o aquecimento global a situação é exatamente a mesma. Nas últimas quatro semanas, o progresso no anúncio de metas de redução de gases do efeito estufa em 2020 (a maioria com base nos níveis de 1990) foi muito maior do que nos últimos quatro anos, quando começaram as primeiras conversas sobre o período pós 2012.
A ‘mitigação’ do aquecimento global basicamente consiste em reduzir as emissões, por isso a importância das metas nacionais, que são o modo como são avaliados os progressos de cada país. Para alcançar seu compromisso, as ações são inúmeras e incluem, por exemplo, substituir fontes de energia fósseis por renováveis, melhorar a eficiência energética das indústrias e dos transportes, reduzir os índices de desmatamento e utilizar melhores práticas na agropecuária (com a coleta do metano, por exemplo, produzido pela suinocultura e transformado em biogás). Veja na tabela aqui o que cada país pretende levar a Copenhague.
Mas nem por isso o momento é propício para comemorações. Segundo um levantamento feito pela Ecofys, Climate Analytics e Instituto de Pesquisa Potsdam pelo Impacto Climático a temperatura subirá além de 3º C em 2100 com as metas colocadas na mesa até esta quinta-feira (03). A concentração de dióxido de carbono (CO2) na atmosfera são projetadas para passarem de 650 partes por milhão (ppm), com um total para todos os gases do efeito estufa (se convertidos para unidades de CO2 equivalentes) em 800 ppm.
As três instituições criaram o projeto Climate Action Tracker (algo como Seguidor da Ação Climática) um site que mostra de forma bastante atualizada os compromissos assumidos pelos países com relação aos níveis nacionais de emissões. “As promessas em jogo não cortam o crescimento das emissões antes de 2040 e estão longe de cair pela metade em 2050, como se comprometeu o G8. Ao invés disso, as emissões devem ser o dobro de 1990 em 2040 baseando-se nas promessas atuais”, afirmou Niklas Hohne, da Ecofys.
Hohne chama a atenção também para o setor de transporte internacional que ainda não foi incluído no debate das metas de maneira apropriada. “Sem compromissos concretos da aviação e navegação internacional na mesa, as emissões de CO2 devem dobrar os níveis de 1990 em 2020, chegando a 1,8 bilhões de toneladas por ano e alcançando quatro vezes os níveis de 1990 em 2050, cerca de 3 bilhões de toneladas por ano”, explica.
Cientistas do Painel Intergovernamental de Mudanças do Clima (IPCC) afirmam que para evitar as piores mudanças climáticas, as temperaturas não devem subir mais do que 2º C e, para isso, a concentração de CO2 na atmosfera deve ser de no máximo 450 ppm. Isto significa uma meta global média de corte de 25% a 40% em 2020, com base nas emissões de 1990. Segundo a Organização Mundial de Meteorologia (OMM), a taxa global média de CO2 era de 385,2 ppm em 2008, aumentando 2 ppm em relação a 2007.
Michael Schaeffer, do Climate Analytics, explica que incluindo as novas posições dos Estados Unidos e da Rússia, a redução de emissões dos países desenvolvidos como um todo seria de 13% a 19% em 2020 com base nos níveis de 1990. “Porém, a quantidade de créditos florestais que estes países querem levaria a redução efetiva para cerca de 8% a 14%”, comenta.
Manifestações
A pressão sobre os líderes mundiais nas próximas duas semanas, todavia, deve se intensificar ainda mais. Diversas manifestações pedindo cortes maiores nas emissões estão marcadas para ocorrerem em Copenhague. A Campanha TicTacTicTac, que reúne diversas organizações não-governamentais, sindicatos e grupos religiosos, já espalhou pelo aeroporto da cidade anúncios publicitários na qual os chefes de estado aparecem pedindo desculpa as futuras gerações por terem falhado em lidar com a crise climática.
Exatamente no meio das duas semanas de negociação, no dia 12 de dezembro, às 12 horas no horário local, o movimento prepara o que chamam “dia de Ação Global – Selando um acordo”, que incentiva pessoas de todo o mundo para mandarem uma mensagem aos líderes que se dirigem para Copenhague. Neste mesmo dia, haverá diversas demonstrações pela cidade promovidas por diferentes instituições e uma vigília a luz de velas, organizada pela campanha Avaaz.
Mas, assim como os anúncios de metas foram feitos apenas nas últimas semanas, qualquer decisão sobre um tratado climático deverá ser feito no último minuto do segundo tempo. Por isso, esteja preparado para muito suspense, possíveis reviravoltas e entraves diários nas negociações nas próximas duas semanas. E lembre-se de deixar uma jarra de café pronta para manter-se bem acordado, porque um ponto final só deverá ser dado no último dia, na madrugada de 18 para 19 de dezembro.
(Por Paula Scheidt, CarbonoBrasil, 04/12/2009)