Qualquer que seja o resultado alcançado na Conferência das Partes - COP-15 - em Copenhague, com os acordos, as metas e compromissos de reduzir a emissão de gases de efeito estufa, uma grande obra deverá ser realizada. Ela implica em trocar em miúdos e traduzir para o cotidiano dos países, das empresas, dos governos, organizações civis e indivíduos uma agenda de ações necessárias. Não será mais possível retomar a vidinha de sempre, com um esverdeamento superficial. Um patamar de consciência terá sido ultrapassado.
Colocarmos em perspectiva esse momento ajuda a visualizar o contexto mais amplo da evolução em que se situa a crise climática e ambiental. Ao estudar a história do universo, Thomas Berry colocou numa perspectiva ampla o papel e a função de nossa espécie, que tem a missão de levar adiante a Grande Obra de “realizar a transição de um período de devastação humana da Terra para um período no qual os seres humanos estariam presentes no planeta de uma forma mutuamente benéfica”. Ele define como nosso papel e o de nossos filhos alinhar nossa vida pessoal com a Grande Obra de gerenciar a árdua transição de uma era Cenozóica terminal para o que denomina como a era Ecozóica emergente, mudança que “não tem paralelo histórico desde a transição geobiológica que teve lugar há 67 milhões de anos, quando o período dos dinossauros terminou e uma nova era biológica se iniciou”.
Na Idade Média, o sentimento religioso construía catedrais, grandes obras coletivas nas quais cada um tinha papel individual. Na era que se inicia, o sentimento e a ética ecológica são os motores que movimentam a ação que mobiliza as ciências e a consciência ecológica em direção a essa relação benigna com a Terra.
A espécie humana é um ator que interfere com força crescente na evolução. Com freqüência suas ações e seu trabalho provocam transformações destrutivas, colapsos, devastações. Cada um dos indivíduos da população humana que vive no planeta passou a ser um gestor e indutor da evolução. No momento atual, essa gestão parece apontar para a catástrofe. Para redirecionar o rumo e evitar o desastre, precisa ser realizada uma grande tarefa construtiva, coletiva.
Recentemente, bilhões de pessoas em todo o mundo vêm tomando conhecimento de que são membros de uma espécie que provoca mudanças climáticas, extinções de espécies e colapsos ambientais. Mobilizados pela intuição e pela vivencia prática de que correm riscos à sua segurança e que sofrem perdas econômicas, despertam para a ação.
É comovente o zelo e a seriedade como, em cada setor de atividade humana, multiplicam-se ações convergentes: empresas aplicam a ecoeficiência e procuram tornarem-se sustentáveis; ONGs pressionam tomadores de decisão nos governos e nas empresas; cientistas elaboram estudos e cenários que ajudam a compreender o funcionamento do planeta e propõem metas limites para limitar o aumento de temperatura e evitar o colapso da civilização; aumenta exponencialmente a ação individual com responsabilidade.
Aprender a adaptar-se à mudança climática e ambiental é condição de sobrevivência. A segurança ecológica traz uma nova percepção do que são os riscos e as formas de proteger-se deles.
Parte dos esforços de ecoeficiencia vem sendo aplicada no campo da oferta, da produção de bens e serviços, na indústria, na agricultura, no comércio e nos mais variados campos de atividades. Procura-se gerenciar empresas de forma mais eficaz, desenvolver tecnologias e processos mais eficientes. São esforços relevantes e necessários.
Entretanto, sem transformar a demanda e o consumo, as ações sobre a produção terão resultados insuficientes. Avanços significativos serão alcançados quando se abolirem atividades intrinsecamente destrutivas, tais como as guerras como formas de resolver conflitos. Pois as guerras, além de seus outros horrores, também queimam combustíveis e emitem gases de efeito estufa.
Mudar atitudes e comportamentos, adotar padrão de consumo de bens materiais minimalista, reduzir demandas supérfluas, implicam em mudar desejos, paixões, vontades; em suma, transformar as consciências e as energias que movem a economia e a ação.
Ao construir essa grande obra o homo sapiens, um ser em transição, evoluirá em direção ao homo ecologicus.
(Por Maurício Andrés Ribeiro*, Portal do Meio Ambiente, 04/12/2009)
*Maurício Andrés Ribeiro - Autor de Ecologizar e de Tesouros da Índia para a civilização sustentável.