Cúpula do clima não terá tratado de força legal, diz dupla após reunião. Maior avanço do encontro será definir aumento de 2C como limite máximo antes de aquecimento se tornar perigoso, afirmam líderes
O presidente Luiz Inácio Lula da Silva e a chanceler alemã Angela Merkel descartaram publicamente a possibilidade de que a cúpula do clima de Copenhague, que começa segunda-feira (07/12), possa produzir um acordo realmente importante. "Não será o acordo dos meus sonhos e nem dos sonhos da Angela Merkel", disse Lula, ao lado da governante alemã, em entrevista coletiva após o encontro entre ambos na Chancelaria, a sede do governo.
O comunicado conjunto emitido pelos dois líderes, aliás, recolhe claramente as perspectivas limitadas para o encontro na capital da Dinamarca. Diz que "o objetivo comum [para Copenhague] seria um ajuste sobre todos os elementos centrais de um novo acordo sobre o clima, bem como sobre um cronograma para a integração dos ajustes de Copenhague em um acordo internacional vinculante sobre o clima". Ou, em palavras mais diretas, será "um acordo político que, nos meses seguintes, será transformado em um acordo jurídico".
Tradução do diplomatiquês: acordos políticos não obrigam ninguém a cumpri-los. Acordos jurídicos, sim, são vinculantes, ainda mais quando feitos sob o guarda-chuva das Nações Unidas, como em Copenhague. Esperava-se da reunião da semana que vem que saísse exatamente o pacote jurídico que obrigasse todos os países a cumprir as metas de redução da emissão de gases que provocam o aquecimento global.
Quando mesmo um líder que se diz otimista, como Lula, descarta essa hipótese, fica claro que o melhor que pode acontecer em Copenhague é o endosso para o limite máximo de 2 C para o aumento da temperatura global, acima do qual "haveria um prejuízo enorme para a humanidade", diz Merkel.
É razoável supor que esse limite sairá realmente do encontro da semana que vem: afinal, faz apenas seis meses as chamadas "grandes economias" (são 17, responsáveis por quase todas as emissões de gases) concordaram que esse teto tem de ser respeitado, durante encontro à margem da cúpula do G8+5+1 em Áquila (Itália). Ao menos do ponto de vista alemão, o Brasil chega a Copenhague em situação elogiável: Merkel até agradeceu a Lula pelas metas anunciadas. Mas cobrou de outros países emergentes um engajamento similar: "Só com os países industrializados, a meta de 2 C não poderá ser atingida".
Lula, de seu lado, fez cobrança parecida à China e à Índia, mas incluiu os Estados Unidos no seu apelo, embora ressalvando que, se dependesse só do presidente Barack Obama, as metas norte-americanas seriam mais ambiciosas.
(Por Clóvis Rossi, Folha de S. Paulo, 04/12/2009)