No coração da ilha de Sumatra, na Indonésia, a península de Kampar está se tornando o símbolo da luta contra o desmatamento. Nesse santuário de 400 mil hectares, terra de selvas, florestas virgens e tribos indígenas, o Greenpeace instalou seu acampamento de "defensores do clima". Contrária a um projeto industrial de plantações de acácias, a organização lidera a resistência diante de uma poderosa produtora de polpa de celulose.
"Estamos indo diretamente para um desastre ecológico", alerta Yuyun Indradi, representante do Greenpeace no Sudeste asiático. "Kampar é um dos maiores reservatórios de carbono do mundo. Seus pântanos de 15 metros de profundidade podem armazenar até 2 bilhões de toneladas de gás de efeito estufa. Se forem queimados, as consequências sobre o meio ambiente serão trágicas".
A península de Kampar possui das maiores florestas de turfa do mundo, que também é um dos maiores depósitos de dióxido de carbono, um trunfo diante de um tratado climático global
Para preservar esse ecossistema em perigo, os militantes realizam ações de choque, desafiando as escavadeiras ou se acorrentando às árvores. Sua mobilização acabou valendo à pena: "O ministro das Florestas ordenou à empresa April que interrompesse temporariamente suas operações de desmatamento, enquanto verificam as licenças de exploração e checam a legalidade de suas atividades", comemora Nur Hidayati, diretor do Greenpeace na Indonésia.
Provável efeito da cúpula de Copenhague, seria essa suspensão concedida às florestas de Kampar uma prova da conscientização dos riscos da mudança climática? A Indonésia, que contesta ser a terceira maior emissora de gases de efeito estufa, quer romper com seus antigos demônios, encarnados pelos incêndios nos pântanos e por um desmatamento exagerado: 800 mil hectares a cada ano, o que causa a emissão de 1,8 bilhão de toneladas de CO2.
"O país reconhece sua responsabilidade e anunciou para 2020 uma diminuição de 26% de suas emissões de gás de efeito estufa. Para chegar a esse resultado, será preciso queimar menos florestas, replantar mais e garantir uma melhor manutenção", acredita Joël Daligault, diretor em Jacarta da Agência Francesa de Desenvolvimento (AFD), encarregada de acompanhar essa iniciativa climática. Uma agência dedicada aos pântanos deve ser criada em breve, bem como 33 unidades de gestão das florestas, cuja missão será vigiar e controlar a concessão das licenças de exploração.
Em Sumatra ou em Kalimantan, a parte indonésia de Bornéu, não faltam projetos de reflorestamento. Vinte e cinco obras já foram iniciadas, com o incentivo do programa REDD (Redução de emissões causadas pelo desmatamento e pela degradação dos solos). O objetivo é proteger as últimas reservas naturais do país e constituir novos reservatórios de carbono.
Habitat em perigo Um dos objetivos dos projetos em Kampar é restaurar manguezais degradados pela prática intensiva da aquacultura
1,9 milhão de mangues
Em frente ao Estreito de Malaca, a associação Planète Urgence já plantou 1,9 milhão de mangues no litoral da província norte de Sumatra. O objetivo é atingir os 5 milhões de árvores em 2012 e restaurar manguezais degradados por uma prática intensiva da aquacultura. "Os mangues têm um grande potencial de sequestro de carbono, em média 18 toneladas por hectare ao ano. Ao replantá-los, estamos criando uma diversidade e um local de armazenamento do carbono", observa Fabien Garnier, coordenador dos projetos de reflorestamento. Foi assim que 1.100 hectares foram reabilitados dentro de um programa global, batizado de Couloir Côtier Carbone [Corredor Costeiro Carbono], que prevê restaurar 670 quilômetros de manguezais até a província de Aceh, a fim de preservar o habitat natural das costas.
Ameaçadas de extinção pela produção maciça de papel, de teca e de óleo de palma, as florestas do arquipélago perderam 40% de sua superfície em meio século. Segundo o Greenpeace, a salvaguarda dos 70 milhões de hectares restantes depende de uma moratória. "É preciso proteger nosso ecossistema e plantar mais", diz Yuyun Indradi. "Senão, corremos o risco de ver desaparecer a floresta indonésia daqui a 70 anos".
(Por Arnaud Guiguitant*, Le Monde / UOL, 02/12/2009)
*Tradução: Lana Lim