Cerca de R$ 2,5 bilhões podem deixar de circular na economia gaúcha em função das chuvas que tendem a provocar uma quebra de 4.1 milhões de toneladas na safra de grãos 2009/2010, além de prejuízo na produção de leite. O presidente da Farsul, Carlos Sperotto, previu ontem uma colheita de 18,5 milhões de tonelada frente à estimativa inicial de 22,6 milhões de toneladas para este ciclo agrícola estadual. De acordo com o dirigente, a maior estimativa de quebra refere-se ao arroz, cuja produção cairia de 8 milhões para 5 milhões de toneladas. A projeção é um agravante no cenário de rentabilidade negativa na maioria das culturas no Estado, dificuldades de comercialização de milho e trigo e dólar penalizante para as exportações brasileiras de carnes e soja. "Será um ano bastante difícil, mesmo com preços dos insumos mais baixos", previu.

Por enquanto, nem Conab nem Emater dimensionaram prováveis impactos no volume da safra pois consideram que ainda pode haver recuperação. Já o prognóstico divulgado também nesta quarta-feira pela Federarroz e Irga é menos alarmista. Considerando 240 mil hectares alagados, atrasos de plantio, além de problemas com barragens e custos adicionais de replantio, estima recuo de 984 mil toneladas, algo em torno de R$ 690 milhões. Segundo o vice-presidente de Mercado do Irga, Marco Aurélio Tavares, esses números refletem uma realidade de momento e dependem da evolução das chuvas.

A Farsul aguarda a chegada de técnicos do governo federal esta semana para fazer um estudo sobre as características da agropecuária e vai apresentar os dados ao ministro Reinhold Stephanes. Sperotto também falou sobre a questão ambiental e disse que espera a prorrogação pelo governo federal da entrada em vigor do decreto 6.514, que prevê a penalização de proprietários rurais que não registraram a reserva legal a partir de 11 de dezembro. No RS, mais de 99% dos agricultores não fizeram o que manda a lei. Caso a prorrogação não aconteça, o dirigente espera medida do Executivo gaúcho. "Acredito que até 11 deste mês, caso não tenha havido a prorrogação que está se desenhando junto ao presidente Lula devido à falta de consenso entre ministros, deverá haver solução interna."

LINHAS DE AÇÃO DA FEDERAÇÃO
Produtividade das lavouras: A Farsul quer a revisão dos números divulgados recentemente pela Embrapa em estudo que aponta que o Estado tem o menor índice de produtividade entre as regiões afetadas por efeitos climáticos. O estudo preliminar realizado em estados prejudicados pelo clima aponta que os agricultores gaúchos produzem a metade do que os outros. Sperotto pondera que, no período de um ano e meio, o Rio Grande do Sul chega a ter cinco safras enquanto estados do Centro-Oeste produzem apenas uma.

Dados do IBGE: A intenção é organizar uma audiência pública para discutir descompassos de informações entre o Censo Agropecuário e a pesquisa nos municípios, ambas feitas pelo IBGE. Entre as áreas onde foram identificadas diferenças de informações, estão a produção de soja no país, que varia de 40 milhões a 52 milhões de toneladas. A Farsul pretende realizar uma audiência pública com participação de técnicos do IBGE, Fundação Getúlio Vargas e Unicamp.

Índices para Reforma Agrária: Apesar da pressão do Movimento dos Sem-Terra (MST) sobre o governo federal neste segundo semestre, há entendimento que a revisão dos polêmicos índices não sai mais neste ano para tranquilidade do setor, que considera a revisão "imoral".

Eleições 2010: Os produtores esperam que os eleitos estejam atentos às necessidades do setor, que, neste ano, garantiu o superávit da balança comercial brasileira, com colaboração de 55,4 bilhões de dólares com destaque para os complexos de soja e fumo. "Será efetivamente um ano bastante movimentado, estaremos com nosso palanque à disposição para quem quiser falar com o produtor rural."

Perspectivas de exportações: Apesar da retração em mercados mundiais e do dólar desfavorável, o Estado precisa buscar novos mercados. Na pecuária, a meta é aumentar as exportações de carne para agregar valor à produção. Com rebanho de 14 milhões de cabeças de bovinos e produção de 600 mil toneladas da carne, o Rio Grande do Sul exportou até outubro 72 mil toneladas de carne bovina, 30% do embarcado em 2006.

A PROJEÇÃO DO PREJUÍZO

Arroz - R$ 1,6 bilhão
Milho - R$ 500 milhões
Leite - R$ 250 milhões
Trigo - R$ 120 milhões
Soja - Como o plantio atrasou ainda não há como mensurar as perdas

(Correio do Povo, 03/12/2009)