De 500 modelos novos, só 22, todos bicombustíveis, ganham cinco estrelas em avaliação do Ministério do Meio Ambiente. Nova classificação inclui gás carbônico e atenua críticas a levantamento de setembro que apontava carro movido a álcool como mais poluente
A nova versão da Nota Verde, divulgada ontem pelo Ministério do Meio Ambiente para estimular a compra de veículos menos poluentes no país, destaca os carros flex, únicos com pontuação máxima, de cinco estrelas, independentemente de usarem álcool ou gasolina. Dos 500 modelos novos de carros vendidos no país, apenas 22 (4,4%) receberam cinco estrelas -todos são nacionais e flex e seus motores têm potência de até 1,8 cilindrada.
Entre os mais poluentes, com apenas uma estrela, estão 20 modelos nacionais e 17 importados. Nenhum dos 104 modelos importados avaliados recebeu mais do que três estrelas. Modelos a gasolina tiveram, no máximo, quatro estrelas.
A mudança nos critérios de classificação é uma resposta às pressões das montadoras, dos produtores de cana e de setores do próprio governo contra a primeira edição da Nota Verde, divulgada em setembro.
Na ocasião, o ministério fez um ranking separado para a emissão de CO2 (gás carbônico), o principal causador do efeito estufa. Com isso, vários modelos flex receberam nota baixa. Essa primeira versão considerava apenas a emissão de três poluentes, que fazem mais mal à saúde, mas não são gases de efeito estufa.
Os carros flex, mesmo a álcool, também emitem CO2, mas o governo considerou que as plantações de cana capturam gás carbônico da atmosfera, o que torna neutro seu efeito sobre o aquecimento global. "O percentual de consumidores que guia sua decisão de compra por essa informação [sobre veículos que poluem menos] ainda é relativamente pequeno, mas acreditamos que vai crescer", disse o ministro Carlos Minc (Meio Ambiente).
Paulo Macedo, coordenador do Proconve (Programa de Controle de Poluição do Ar por Veículos Automotores), do Ministério do Meio Ambiente, disse que o novo critério adotado é mais rigoroso e mais justo. Todos os modelos avaliados enquadram-se no limite de poluição da legislação brasileira. As emissões foram medidas durante os testes de homologação dos veículos. A nova Nota Verde, disponível no site www.mma.gov.br, foi atribuída a modelos fabricados em 2009.
Repercussão
A Anfavea (associação das montadoras), que na semana passada foi beneficiada pelo congelamento do IPI (Imposto sobre Produtos Industrializados) para carros flex, não reclamou do ranking, como fez em setembro. Chamou de "critérios aperfeiçoados" e disse que "eventuais correções serão feitas no decorrer do processo".
Já a Unica (Associação dos Produtores de Açúcar e Álcool), que também criticou a primeira versão, classificou como "erro corrigido" a nova Nota Verde. "Aquele ranking não era correto. Agora se restabelece a lógica das coisas", afirmou Sérgio Prado, diretor da Unica. Maurilio Biagi Filho, empresário do setor, disse que o ranking atual é uma boa notícia, mas não anula o problema causado pelo anterior. "Aquela notícia teve repercussão negativa internacional enorme."
(Por Marta Salomon*, Folha de S. Paulo, 02/12/2009)
* Colaboraram FELIPE NÓBREGA , da Reportagem Local, e LEANDRO MARTINS , da Folha Ribeirão