Negócio custou US$ 400 milhões; plano é construir, em parceria, uma siderúrgica de US$ 5 bilhões no Rio
A China anunciou nesta segunda (30/11) seu primeiro grande investimento no Brasil: a siderúrgica Wisco (Wuhan Iron and Steel Co.) aportará US$ 400 milhões na aquisição de 21,5% das ações da mineradora MMX, do empresário Eike Batista. A empresa pretende construir em parceria com o grupo brasileiro uma usina de aço no Estado do Rio, orçada em cerca de US$ 5 bilhões.
Em troca, a estatal chinesa obteve a garantia de fornecimento de minério de ferro por 20 anos da MMX, que fica obrigada a vender, no mínimo, 50% de sua produção à siderúrgica. Para ceder espaço à Wisco, a MMX fará um lançamento de ações na Bolsa, aberto também aos atuais minoritários. Se todos os acionistas participarem, a mineradora vai captar, ao todo, US$ 650 milhões.
Com isso, a participação de Eike Batista será diluída dos atuais 64% para 42%.
Roger Downey, presidente da MMX, disse que a transação "resolve o problema" do endividamento da companhia -estimado em US$ 600 milhões e considerado alto por analistas. O executivo disse que a empresa pode acelerar seus planos de investimentos e de aquisições de reservas e pequenas mineradoras independentes graças ao acordo com a Wisco.
"Para fazer um negócio, o mais importante é ter mercado, e a China será o eterno grande consumidor de minério de ferro", completou Batista. A MMX já considera elevar sua meta de produção de 33,7 milhões de toneladas de minério de ferro ao ano em 2013 para até 100 milhões de toneladas. "Foram cinco viagens à China e um ano de negociação, mas construímos uma autopista para a realização de novos negócios e de vendas", disse Batista.
Segundo o executivo, o investimento na siderúrgica foi um ato de "reciprocidade" da Wisco em troca do fornecimento de longo prazo. Terceira maior siderúrgica chinesa, a Wisco fabrica 30 milhões de toneladas de aço ao ano -a capacidade de produção brasileira é de 34 milhões de toneladas. A usina começará a ser construída em junho de 2010. A Wisco terá 70% do capital, e a MMX ficará com 30%. Os dois grupos vão buscar financiamento no Banco de Desenvolvimento da China e no BNDES.
Se concretizado, será o primeiro grande investimento produtivo da China no Brasil. A chinesa Baosteel, em parceira minoritária com a Vale, chegou a anunciar um investimento de US$ 3 bilhões em uma usina no Espírito Santo, mas desistiu. Um dos pontos de atrito da Vale com o presidente Luiz Inácio Lula da Silva foi a falta de investimentos da mineradora em siderurgia.
(Por Pedro Soares, Folha de S. Paulo, 01/12/2009)