Prevista para contar com a presença de nove presidentes, a cúpula dos países amazônicos sobre mudança do clima terminou nesta quinta (26/11), em Manaus, com participação de apenas três chefes de Estado, inclusive o anfitrião, presidente Luiz Inácio Lula da Silva. Os outros foram Nicolas Sarkozy, da França, e Bharrat Jagdeo, da Guiana.
Lula afirmou que a ausência dos convidados não significa o fiasco da cúpula. Mas nos bastidores diplomáticos, a leitura é que a diplomacia brasileira patrocinou um vexame, para dizer o mínimo. A Declaração de Manaus pouco ou quase nada acrescentou ao que já havia sido dito pelos países da região. Lula e Sarkozy, no entanto, manifestaram confiança na apresentação de uma proposta comum dos países amazônicos à conferência de Copenhague, em dezembro.
Lula disse acreditar que o documento divulgado após a reunião de ontem deve "balizar o comportamento dos presidentes da América do Sul em Copenhague". O presidente brasileiro ressaltou que a ausência de seus colegas não tinha maior significado em relação ao conteúdo da proposta, pois o documento já havia sido discutido várias vezes antes pelos técnicos de cada país.
Sarkozy e Lula foram os principais inspiradores da proposta que será levada a Copenhague. Sarkozy disse que Copenhague terá de apresentar números, mas não só aqueles referentes à redução das emissões, mas também o financiamento para a proteção da floresta na Amazônia e França, bacia do Congo, Indonésia e Sibéria. O presidente francês acha que 20% dos US$ 10 bilhões previstos para medidas de proteção climática devem ser destinados especificamente à proteção das florestas, porque a emissão de CO2 do desmatamento representa 20% das emissões causadoras do efeito estufa.
Após firmar um acordo sobre mudanças climáticas com Sarkozy, Lula pensou em tirar uma posição conjunta também dos países que integram a região amazônica - a França entra com o departamento ultramarino da Guiana Francesa. Logo o Itamaraty se deu conta de que haveria problemas de agenda. Sarkozy, em Paris, dissera ao presidente que era só marcar que ele compareceria, independentemente da data. No início desta semana, apenas quatro dos nove presidentes indicavam que iriam a Manaus.
Além de Lula, Sarkozy e Jadgedo, o Itamaraty esperava os presidente da Colômbia, Alvaro Uribe, do Equador, Rafael Correa, e o venezuelano Hugo Chávez. Na véspera da cúpula, Uribe mandou avisar que não poderia comparecer, porque estava com problemas de saúde - na realidade, uma inflamação no pé. A desculpa foi entendida como um pretexto para não se encontrar com o desafeto Chávez.
No dia seguinte, o próprio Chávez informou que não viajaria ao Amazonas, porque teria de atender os presidentes do Irã e da Palestina, em visita a Caracas. Nos meios diplomáticos, as duas explicações soaram como desculpas esfarrapadas.
O presidente Lula manifestou confiança na obtenção de resultados concretos em Copenhague, porque há uma semana, ou menos, se dizia que os Estados Unidos e a China não apresentariam proposta de redução de emissão de gases, e no entanto isso mudou. O mesmo raciocínio, segundo Lula, serve para o que aconteceu em Manaus: apesar do fracasso de público, a adesão dos países da região se mostrará um sucesso em Copenhague.
"É crítico que se gere financiamento adequado e previsível para essas atividades (de preservação da floresta amazônica) ", diz a Declaração de Manaus. "Apoiamos a redução de emissões por desmatamento e degradação florestal, o papel de conservação, manejo florestal sustentável e aumento do estoque de carbono florestal, no âmbito do regime de mudança do clima, com apoio financeiro e tecnológico internacional apropriado para cada uma delas e proteção da diversidade biológica." Segundo o documento, "as florestas estão no cerne de nossas políticas de mitigação e acreditamos que devem constituir parte importante do resultado acordado de Copenhague".
(Por Raymundo Costa, Valor Econômico / Amazonia.org.br, 27/11/2009)