Definitivamente, o Estado ingressou na rota de atração de projetos ligados à energia eólica. O mais recente é o da espanhola Impel, uma das maiores do mundo, que tem mais de 20 anos de operação no mercado e já implantou mais de 40% dos parques eólicos de seu país. O projeto consolidará o Estado como o maior polo eólico do país.
O investimento previsto é de 2 bilhões de euros (R$ 5,2 bilhões) em cinco parques para gerar mil megawatts de energia, seis vezes o atual potencial de Osório, o que uma fonte do setor considera, no entanto, exagerado. No governo, um dos projetos informa, porém, a intenção de gerar 500 megawatts.
A verba prevista é equivalente a 3,7 projetos que a GM está fazendo no Rio Grande do Sul. Mas o diretor da Impel no Brasil, Lusivaldo Monteiro, não descarta que, com todo o projeto, incluindo fornecedores, indústrias e outros prestadores de serviço, possa chegar a 5 bilhões de euros (R$ 13 bilhões). Na segunda-feira, o executivo deve voltar ao Estado para dar seguimento às negociações.
Após ser identificada como uma região de “ventos muito favoráveis”, Tapes deverá ser a sede do empreendimento, que depende, para ser efetivado, de um novo leilão de energia do governo – não o previsto para a metade de dezembro – que assegura a compra do produto. Diretores da empresa já estiveram três vezes no município, visitaram áreas e mantiveram contatos com os proprietários das terras e com o Executivo, conta o prefeito Sylvio Tejada Xavier (PDT), que os acompanhou, inclusive em audiência com a governadora Yeda Crusius.
Boa corrente de vento
A negociação com o governo gaúcho, a quem cabe possíveis incentivos para a implantação do projeto, vem sendo realizada há cerca de dois anos, lembrou Edmundo Fernandes da Silva, hoje conselheiro da Agergs, mas que na Secretaria de Infraestrutura do Estado coordenou a assessoria técnica responsável pela análise de futuros investimentos. Silva confirma a ideia do projeto e enfatiza a necessidade de se investir em formas alternativas de energia:
– O consumo está em alta. Se tivéssemos problemas em hidroeletricidade, o que não existe porque os reservatórios estão cheios agora, a situação seria bem difícil.
Por enquanto, o projeto é mantido em sigilo, mas já se sabe que será diferenciado e foi classificado por quem teve acesso ao material como “audacioso”. A ideia é aproveitar “uma boa corrente de vento que vai de Tapes, passa por Palmares e desemboca em Viamão”.
Cata-ventos já integram paisagem
Quem vai ao Litoral pela freeway certamente já parou para apreciar os gigantes aerogeradores do parque eólico de Osório. São 75 torres da Ventos Sul, administradora do parque e controlada pela Enerfín, braço eólico do grupo espanhol Elecnor.
Desde 1983, o grupo espanhol Impel realiza estudos para projetos energéticos. A atuação no segmento de energia eólica começou há 12 anos. Na parte industrial, também projeta e executa subestações e linhas de transmissão.
Cada projeto terá até 80 geradores
Interessada em ampliar parcerias em projetos de geração, a CEEE foi procurada pela Impel. Mas a negociação ainda não evoluiu porque faltam dados de validação do potencial de ventos, afirma Sérgio Dias, diretor de geração da estatal.
Proprietários rurais em Viamão e Barra do Ribeiro já foram procurados por imobiliárias locais, a pedido da Impel, para negociar o arrendamento de áreas para a instalação de cata-ventos.
Paulo Henrique Corrêa, proprietário da Claudia Molina Imóveis, de Viamão, já acertou o arrendamento de 800 hectares na região, após quase um ano de negociações com os espanhóis, quando foi informado de que o mínimo de cata-ventos estabelecido para um parque é de 25, número que pode chegar a 75 ou 80, dependendo da qualidade do vento.
Obras atraem distrito industrial
Os bons ventos que sopram resultaram inclusive no projeto de instalação de um distrito industrial que produzirá equipamentos para aerogeradores. Previsto para ser instalado em Guaíba, será um investimento de R$ 100 milhões, podendo abrir 2 mil vagas.
Medição em andamento
No momento, é feita em Tapes a medição dos ventos, que pode levar até dois anos, um dos trabalhos a cargo da Impel. A empresa, cuja sede brasileira fica na capital paulista, é responsável pelos estudos, licenciamento, implantação dos parques e montagem dos consórcios de investidores. O grupo, entretanto, não administra o parque, processo em mãos de investidores, muitos deles internacionais As obras em geração serão seguidas por linhas de transmissão e subestações de energia.
(Zero Hora, 28/11/2009)