Dois meses foi o tempo necessário para o ministro do Meio Ambiente, Carlos Minc, convencer o presidente Lula da importância do Brasil assumir o compromisso voluntário de reduzir suas emissões de gases do efeito estufa entre 36% e 38,9% até 2020. A afirmação foi publicada nesta sexta-feira (27) em entrevista do ministro à revista “Science”.
A entrevista apresenta Minc como um ministro capaz de agradar aos setores industriais com rápidas tomadas de decisões e aos ambientalistas por sua atuação em operações contra o desmatamento e a criação de gado ilegal na Amazônia. Além de seus coletes característicos, o passado de luta contra a ditadura, prisão e tortura também são lembrados.
Para convencer Lula, Minc afirma que mostrou ao presidente que isso era um clamor da sociedade e que a omissão do país poderia levar a frustração dos brasileiros. Além disso, segundo ele, a Conferência da ONU sobre Mudanças Climáticas, poderia fracassar. A decisão de Lula, “que não é um cientista e sim um grande estadista”, foi positiva para a política interna e internacional do Brasil, disse o ministro à “Science”.
De acordo com o ministro brasileiro, o menor índice de desmatamento da Amazônia em 21 anos, registrado neste ano, credencia o país perante a comunidade internacional a acreditar na meta brasileira de redução de emissões. “Metade de nossa redução de 39% de emissões virá da Amazônia – reduzindo o desmatamento em 80%”, afirma Minc à “Science”.
Para ele, os cientistas do Painel Intergovernamental de Mudanças Climáticas (IPCC, na sigla em inglês) são os ambientalistas mais importantes de hoje, pois foi a partir do relatório realizado por eles que o mundo se deu conta de que “o aquecimento global não é uma ficção.“
Minc afirma que decisão do Brasil de estabelecer a meta de reduzir suas emissões de carbono equivalente entre 36% e 38,9% esbarrava na possibilidade de que outros países em desenvolvimento como a Índia se sentissem desconfortáveis com a posição brasileira.
Após reuniões com ministros do Meio Ambiente da China, Índia e África do Sul, diz Minc, os representantes desses países disseram não se sentir pressionados pela posição do Brasil. “Eles queriam estar certos de que nossas críticas eram mais dirigidas a países como os Estados Unidos, que são os maiores emissores e não estão fazendo seu dever de casa”, afirmou o ministro.
(G1, 28/11/2009)