Indústrias gaúchas estimam perda diária de cerca de 1 milhão de litros de leite e queda de 30% na escala de abate de gado
A expectativa favorável do campo com o El Niño pelos efeitos benéficos do fenômeno em anos anteriores se transformou, pelo menos por enquanto, em frustração. Além do prejuízo nas lavouras, as enxurradas que avariaram estradas, destruíram pontilhões e deixaram campos alagados no Estado levam a perdas e transtornos na pecuária de leite e de corte.
Com muitos acessos interrompidos nos municípios do Interior, os caminhões de recolhimento de leite não chegam às propriedades para levar a matéria-prima às indústrias, e os frigoríficos reduzem os abates pela dificuldade de carregar o gado.
– As escalas de abate caíram porque a oferta de animais diminuiu em torno de 30%. Muitas fazendas estão inacessíveis – diz o diretor executivo do Sindicato da Indústria da Carne do Estado (Sicadergs), Zilmar Moussalle, acrescentando que o problema é mais grave nas regiões da Campanha e Fronteira Oeste.
Com a dificuldade de acesso, uma das saídas tem sido resgatar as tropeadas, prática quase extinta no Estado, conduzindo a cavalo pelas estradas o gado até um ponto que o carregamento possa ser feito nos caminhões. Sócio de um escritório de negócios rurais em Santana do Livramento, Rafael Lopes Labarte conta ter recorrido a três tropeadas desde o início das chuvas e tem mais duas programadas na próxima semana.
– Tenho sete carregamentos atrasados. É prejuízo para o frigorífico e o produtor – afirma.
Momento decisivo para soja será em fevereiro e março
O presidente do Sindicato das Indústrias de Laticínios do Estado (Sindilat), Carlos Feijó, diz que, além do problema de acesso, os temporais em zonas rurais causaram problemas de conservação do leite pela falta de energia elétrica para os resfriadores. Segundo Feijó, a produção diária do Rio Grande do Sul é de 8,3 milhões de litros, e em torno de 1 milhão de litros estariam sendo perdidos. Como o preço médio pago ao produtor – conforme a Emater – é de R$ 0,55 o litro, o prejuízo diário alcançaria cerca de R$ 550 mil.
– Muitas vezes, o leite acaba sendo descartado – ressalta.
Nas lavouras, as perdas também começam a ser calculadas no fumo. Segundo o presidente da Associação dos Fumicultores do Brasil, Benício Werner, a quebra no Vale do Rio Pardo vai chegar 20%, o que representará uma queda de pelo menos 5% no volume estimado de produção nos três Estados do Sul, inicialmente calculado em 750 mil toneladas. A umidade favorece o aparecimento de fungos.
No caso da soja, os técnicos consideram que é cedo para falar em perdas.
– O melhor período para plantar é de 15 a 30 de novembro, mas não há problema se for no início de dezembro. O importante agora é que o produtor não tenha pressa e plante de qualquer jeito no barro – alerta o gestor técnico da Cooperativa dos Agricultores de Plantio Direto, Dirceu Gassen, lembrando que o decisivo para a soja é uma boa oferta de chuva entre fevereiro e março.
(Por Caio Cigana, Zero Hora, 28/11/2009)