O especialista em mudanças climáticas Viriato Soromenho-Marques acredita que os compromissos contraídos por Estados Unidos e China de reduzir as emissões de dióxido de carbono "vão criar uma dinâmica nova" que aumentará as possibilidades de um acordo em Copenhague.
As propostas dos dois países criam "uma grande esperança de chegar a Copenhague com metade do caminho trilhado para sair com um acordo vinculativo", disse à Agência Lusa Soromenho-Marques, conselheiro do presidente da Comissão Europeia (Executivo da União Europeia) para as áreas de energia e mudanças climáticas.
O presidente norte-americano, Barack Obama, anunciou na quarta-feira que vai apresentar na Conferência do Clima, em Copenhague, um corte gradual das emissões de gases que intensificam o efeito estufa de 17% em 2020, de 30% em 2025 e de 42% em 2030.
Depois deste anúncio, o governo chinês disse nesta quinta que reduzirá, até 2020, a intensidade das emissões de dióxido de carbono por unidade do Produto Interno Bruto (PIB) em entre 40% e 45% até 2020.
As reduções indicadas pelas duas nações tomam como base 2005, enquanto a maioria dos países que participam das negociações da ONU sobre mudanças climáticas consideram 1990 como ponto de partida.
Comentando os anúncios, Soromenho-Marques afirmou estar satisfeito e considerou as metas "muito positivas". "A China não faz parte dos países com obrigação de reduzir, pelo que essa intenção de reduzir voluntariamente é muito positiva. Significa que a China vai continuar a crescer, mas menos do que seria de esperar", explicou.
O especialista acredita que os 40% e 45% anunciados pela China, que são números da ordem da eficiência energética, deverão corresponder a um aumento de emissões entre 15% e 30%, abaixo do previsto.
Proposta americana
Já a redução das emissões anunciada por Obama corresponde, na prática, a uma queda de apenas 3% frente a 1990.
"Parece bastante pouco, mas é muito positivo, pois a verdade é que vai criar uma dinâmica nova que não havia antes. Havendo uma lei a que os Estados Unidos da América se vinculam, o cenário torna-se favorável para que as coisas se decidam no terreno", afirmou, para acrescentar que "é no plano da ética, da tecnologia e da economia que a batalha do clima se vai decidir".
"A China olha para a União Europeia com muita simpatia, mas para os Estados Unidos com muita determinação", ressaltou o especialista, que considerou que a decisão norte-americana foi fundamental para o anúncio chinês.
Lembrando que as emissões dos dois países somadas correspondem a aproximadamente metade da liberação de poluentes no mundo e a três vezes mais do que a UE emite por ano, Soromenho-Marques disse que "um acordo sem eles em Copenhague seria um acordo sem importância".
A Conferência do Clima, em Copenhague, acontece entre 7 e 18 de dezembro e visa conseguir um acordo que deve entrar em vigor antes de expirar a primeira fase do Protocolo de Quioto, em janeiro de 2013, para travar de forma vinculativa as emissões de dióxido de carbono.
(Lusa / UOL, 27/11/2009)