Cúpula dos países amazônicos sobre o clima termina esvaziada em Manaus
Segundo Lula, EUA e China só começaram a se mexer para evitar fracasso em Copenhague depois que o Brasil apresentou metas
Após uma reunião que deveria ter nove presidentes, mas só teve três, o presidente da França, Nicolas Sarkozy, defendeu que 20% da verba dos países ricos para combater o aquecimento global nos países pobres seja aplicada diretamente na proteção das florestas.
No documento oficial do encontro, a "Declaração de Manaus", os países destacam que "a floresta amazônica é particularmente vulnerável aos efeitos da mudanças do clima". Para o presidente Luiz Inácio Lula da Silva, essa declaração "vai balizar a posição da América do Sul em Copenhague, sem que nenhum dos países abra mão de sua soberania".
Foi uma ressalva interessante, já que as justificativas para a ausência de tantos presidentes foi considerada frágil, deixando a impressão de uma resistência à liderança de Sarkozy e Lula na conferência do clima, como se houvesse divergências entre eles e suspeitas de avanços sobre a soberania de alguns.
Para tentar dissolver a impressão, o terceiro presidente que compareceu, Bharrat Jagdeo, da Guiana, fez rasgados elogios a Lula e agradeceu a sua liderança no processo. Aplaudido, Jagdeo fez um discurso contundente em defesa de que os países ricos financiem a proteção ambiental nos pobres.
"E tem de ser já, não amanhã, não no ano que vem, não em 2020", disse ele, acrescentando que cem países já sofrem as consequências do aquecimento "e eles não podem esperar". Lula também se disse satisfeito com a reversão de expectativa diante da conferência do mês que vem e tentou valorizar o papel do Brasil para o fim da sensação de que Copenhague caminhava para o fracasso.
Segundo ele, foi depois do acordo Brasil-França, e depois que o Brasil apresentou uma proposta concreta de redução de CO2 que os demais países começaram a se mexer. "Uma semana atrás, como vocês estão lembrados, os EUA não tinham um número e a China não tinha um número.
Hoje, o presidente Obama já tem um número. Não é o que eu queria, mas é um número, e a China também tem um número", disse Lula. Mais cedo, durante a inauguração do gasoduto Urucu-Manaus, Lula dissera que os "gringos" vão pagar a conta da preservação da Amazônia e que o Brasil tem o que mostrar no encontro de Copenhague.
"Nós queremos mostrar para os nossos amigos americanos, para os nossos amigos europeus, que aqui no Brasil a gente fala menos e faz mais. A gente não é como aqueles que falam: "Eu mato a cobra e mostro o pau". Ora, quem mata a cobra e mostra o pau não mostrou a cobra morta. Aqui, a gente mata a cobra e mostra a bichinha morta, a gente não mostra indiferença", declarou Lula.
Na sua opinião, "Copenhague vai ser um momento histórico". Mas, ontem, era a visível a frustração com a ausência dos presidentes da Venezuela, Hugo Chávez, da Colômbia, Álvaro Uribe, do Peru, Alan García, da Bolívia, Evo Morales, do Equador, Rafael Correa, e do Suriname, Ronald Venetiaan. A "Declaração de Manaus", portanto, é um documento de ministros e assessores, mas o chanceler Celso Amorim não vê nada demais: "Eles têm poder plenipotenciário".
(Por Eliane Cantanhêde*, Folha de S. Paulo, 27/11/2009)
*Colaborou KÁTIA BRASIL, da Agência Folha em Manaus