O Brasil emocionou-se no final de 2008 com a dimensão da tragédia que se abateu sobre o Vale do Itajaí. Gestos de solidariedade, vindos de diferentes cidades e nações, comoveram os catarinenses. Um batalhão de voluntários juntou-se às equipes de segurança na assistência às vítimas e reconstrução das cidades mais atingidas. William Bonner quebrou a tradição do Jornal Nacional, o principal noticiário televisivo do Brasil. Abandonou a clássica bancada no estúdio da Rede Globo, no Rio, e veio a Santa Catarina mostrar, com a conhecida competência e elogiável criatividade, os dramas humanos causados pela catástrofe.
Quer dizer: todo mundo se sensibilizou com os deslizamentos e as enchentes. Houve depois uma unanimidade em torno da urgência nas obras de prevenção das cheias no Vale do Itajaí. Menos do Fórum Parlamentar Catarinense. Terminado o prazo para apresentação de emendas ao Orçamento da União, um balanço vergonhoso: nenhum centavo para execução de projetos para obras de prevenção.
Outro paradoxo inexplicável: o Vale do Itajaí tem o maior número de deputados. São cinco representantes da região: Décio Lima, ex-prefeito, do PT, e João Pizzolatti, do PP, ambos de Blumenau; João Matos, do PMDB de Ibirama; Ângela Amin, do PP, de Indaial; e Nelson Goetten de Lima, ex-prefeito de Taió, do PR, coordenador “improvisado” do Fórum.
Um terço da bancada e todos da base governista. Os outros, convalidando mais esta traição política. A ata “produzida” para viabilizar a vergonhosa operação, em cima da hora e na perna, com suspeita de vícios insanáveis. O deputado Fernando Coruja teria riscado seu nome das emendas.
Partidárias
Reassumindo a coordenação do Fórum, José Carlos Vieira alega que “não havia projetos”. Informado que Blumenau apresentou projetos de prevenção de R$ 40 milhões, mudou o discurso. “Não é possível emendas com verbas para obras nos municípios”, explicou.
– Foi tudo manobra do PT, do PR e dos aliados do Planalto para beneficiar projetos partidários – denunciou, indignado, Paulinho Bornhausen, do DEM, dizendo que sua emenda para prevenção foi substituída por obras do contorno viário de Gaspar, município administrado pelo PT.
Operação da senadora Ideli Salvatti. Uma dotação de R$ 100 milhões das emendas coletivas foi para o Ministério da Pesca. Também comandado pelo PT. A maioria das emendas milionárias concentrou-se em rodovias. Quer dizer: obrigação original do governo federal e do Dnit.
Na noite em que senadores e deputados davam as costas para o Vale do Itajaí, o Grupo RBS entregava o Troféu Amigo da Comunidade a 14 pessoas e instituições que se destacaram em ações humanas e comunitárias, com relevantes serviços ao Estado. Homenagem especial foi prestada ao bravo povo do Vale do Itajaí, na pessoa do sobrevivente José Altino Richard, que perdeu a esposa e uma filha na catástrofe de Ilhota. Passos lentos, rosto abatido, seu Altino subiu ao palco do Teatro Juarez Machado.
Quando o presidente do Grupo RBS, Nelson Sirotsky, fez a entrega solene do troféu, seu Altino inclinou a cabeça, silenciosamente e, emocionado, agradeceu a homenagem. E a plateia, levantou-se espontaneamente em vibrantes aplausos, como que a abraçá-lo em calorosa manifestação de apoio, conforto e solidariedade. Queira Deus que, no futuro, a omissão dos parlamentares catarinenses não provoque novas tragédias humanas, como esta vivida por seu Altino e sua família.
(Por Moacir Pereira, Jornal de Santa Catarina, 27/11/2009)