A boa notícia é que o verão deve ser menos chuvoso do que essa primavera de tempestades no Sul. A má notícia é que os gaúchos estão sofrendo o auge do El Niño, fenômeno climático derivado do aquecimento das águas do Oceano Pacífico. A perspectiva é que o mar se aqueça até dois graus acima do normal, o que representa um El Niño de moderado a forte. Isso agrava as condições naturais em cada microrregião da América do Sul – onde costuma chover, chove mais. Onde costuma haver seca, a estiagem se agiganta.
É o que ocorre agora no Brasil. O Sul está afogado por quantidades de chuva até cinco vezes acima da média. Só no Rio Grande do Sul, mais de 4 milhões de pessoas sofreram, desde o início de novembro, consequências das tempestades. Ontem, o Estado vivenciou ventos com velocidade acima dos 100 km/h, fenômeno frequente.
No norte e no nordeste do país, o quadro é inverso. Amargam uma seca como há anos não se via, com menos da metade da chuva usual.
– Ainda é cedo para ser taxativo, mas é provável que o El Niño seja o mais severo da década – adverte Cássia Beu, meteorologista da rede Somar.
O último El Niño aconteceu no verão 2006/2007, e os modelos de previsão indicam que o episódio deste ano será mais intenso, chegando a padrões próximos aos do verão 1997/1998, quando houve intensas chuvas no Sul e estiagem severa no Nordeste.
O resultado é que, enquanto em Camaquã mais de 500 pessoas continuam ilhadas pelas transbordantes águas do Rio Camaquã, na Paraíba 80 municípios estão sendo abastecidos com carros-pipa. Enquanto tornados e tempestades destroem parte de cidades como a gaúcha Três de Maio, os peixes do Rio Maniquiri, no Amazonas, morrem por falta de água, e Manaus se exaspera com níveis de chuva três vezes inferiores ao habitual.
Com relação às lavouras, o excesso de chuva vai destruir grande parte do arroz plantado no Sul. Deve ocorrer redução da luminosidade e maior incidência de doenças nas plantações de soja e milho. Sem falar em excesso de chuva e inundações no período de colheita. O bom efeito pode ser a recuperação das pastagens. No Nordeste, a fase final do desenvolvimento de soja, milho e algodão deve ser prejudicada.
E quando termina essa revolução climática? Após diminuir de intensidade no verão, no Sul, a chuva volta no outono. O El Niño morre mesmo no próximo inverno. É bom ter paciência.
(Por Humberto Trezzi, Zero Hora, 27/11/2009)