Na madrugada desta quarta-feira (25/11), cerca de 250 Guarani Kaiowá decidiram retornar para seu território tradicional, Kurussu Ambá, perto do município de Coronel Sapucaia no Mato Grosso do Sul. Há quatro anos, os índios da comunidade de Kurussu Ambá foram expulsos e passaram a morar, sem qualquer condição de sobrevivência, às margens da Rodovia MS 289.
No mesmo dia do retorno dos indígenas, por volta das 23 horas, ocupantes de 10 carros intimidaram os Guarani Kaiowá atirando para cima. O fato provocou tumulto no território e muitos indígenas se dispersaram para dentro da mata. Alguns ainda não foram encontrados. Segundo informações do Conselho Indigenista Missionário (CIMI), os índios relataram que entre os veículos havia um do Departamento de Operações de Fronteiras (DOF).
Para Egon Heck, coordenador do Cimi Regional Mato Grosso do Sul, a situação do Estado chegou a este ponto por haver conivência do Governo com as atuações dos fazendeiros da região. "O Poder Público Estadual teve conhecimento e participação direta nos últimos casos. A postura é de um acordo tácito para deixar as coisas como estão. Existe disponibilidade dos policiais locais de desencadear os atos de violência e negar os direitos dos indígenas", assegura.
Segundo Egon, os indígenas tomaram a decisão de voltar para seu território tradicional, pois os estudos para a demarcação estavam parados em virtude do impedimento causado pelos fazendeiros. "Os índio sofreram prisões, assassinatos, fome, atropelamentos e aguardaram o retorno dos grupos de trabalho para o estudo antropológico. Do ponto de vista humano qualquer um teria perdido a paciência. Restou como única forma o retorno", explica.
Hoje, a presença de pistoleiros foi novamente notada nos arredores do território indígena. Contudo, não foram registradas ações de violência. Com medo de que aconteçam novos ataques os indígenas estão apelando para que a Fundação Nacional do Índio (Funai) e o Ministério Público Federal (MPF) compareçam ao local.
Durante o período em estiveram acampados às margens da Rodovia MS 289 os indígenas sofreram com a fome, a falta de água potável e os atropelamentos. Em 2007, foi registrada a morte de três crianças por má nutrição. A situação aconteceu pela falta de local para plantar e também porque a quantidade de alimentos enviados pelo Estado tem sido insuficiente. Há também grande carência de atendimento de saúde.
De acordo com o coordenador do Cimi, a posição manifestada pelos indígenas é a de permanecer no local como forma de pressionar para que a os estudos para a demarcação sejam agilizados. "Estamos em um momento histórico de luta e indignação. Fazemos um apelo ao poder público federal e estadual, ao Ministério Público e à polícia para que busquem resolver esta situação por outros meios que não a violência".
(Por Natasha Pitts, Adital, 26/11/2009)