Para o economista Ignacy Sachs, um especialista em planejamento, economia e meio ambiente, o resultado da Conferência do Clima em Copenhague não deve trazer resultados. "A julgar pelo que a imprensa publica, vamos ter de pensar numa Copenhague 2, mudar de lugar, dar mais tempo e preparar as coisas de maneira mais séria", afirmou, em entrevista ao UOL Notícias.
Profundo conhecedor dos problemas do que se costumava chamar de Terceiro Mundo, quando o mundo era dividido entre o Primeiro Mundo capitalista e o Segundo Mundo socialista, Sachs diz que a conferência corre o risco de repetir Kyoto.
Em Kyoto, diz, os Estados Unidos foram os "vilões" ao não aceitar implementar o protocolo discutido em 1997 na cidade japonesa. Mas, mesmo que eles tivessem aderido ao protocolo, o mundo estaria pondo em prática apenas 10% ou 15% do que é tido como necessário para frear o processo de emissão de gases do efeito estufa e de aquecimento global. Kyoto, diz Sachs, discutiu o que os países estavam dispostos a fazer, e não o que precisava ser feito.
Agora, Estados Unidos e China estão entre os países que relutam em definir metas obrigatórias de redução de emissão de gases que provocam o efeito estufa. "O caminho é estreito, e para entrar neste caminho, precisamos de um certo número de compromissos sérios a serem negociados nos próximos anos. E, quando se chega à mesa de negociação, este sentimento não está sendo compartilhado por todos aqueles que deviam estar negociando."
Na sua opinião, o Brasil cumpre um papel importante ao levar uma meta concreta de controle da emissão de CO2. O governo brasileiro diz que o país tem a meta voluntária de reduzir em 39% a emissão que seria esperada do país em 2020 caso nada fizesse. Mais importante que o número, avalia, é a posição, que pode ajudar os países industrializados a se posicionarem e "fazerem o seu dever".
"Idealmente, deveríamos estar chegando a uma conferência desses com um documento das Nações Unidas", diz Sachs. Esse documento deveria apontar objetivamente o tamanho do problema, a partir dos estudos dos melhores pesquisadores do planeta, para que os diplomatas discutissem concretamente como resolvê-lo em tempo hábil. "Isso não está acontecendo nem vai acontecer até dezembro deste ano ou do próximo ano. Por isso corremos o risco de repetir Kyoto."
Ele, no entanto, faz uma analogia da negociação atual com a do desarmamento. No fim da Guerra Fria, diz, cada um dos blocos, o capitalista e o socialista, podia destruir o planeta 200 vezes. Hoje, isso caiu 180, 160 vezes, diz. "Isso não resolve." Na quarta-feira (18/11), a Rússia afirmou que planeja reduzir as emissões de gases de efeito estufa para entre 20% e 25% até 2020 em relação a 1990, num movimento coordenado com a União Europeia. Durante as negociações de Kyoto, o Brasil, como país em desenvolvimento, não precisou apresentar metas.
Sachs está no Brasil para lançar, em várias cidades do país, sua autobiografia, "A Terceira Margem - Em Busca do Ecodesenvolvimento" (Companhia das Letras, 392 págs., R$ 55). Nele conta a sua trajetória intelectual - desde a primeira fuga da Polônia, ainda criança, diante da ameaça nazista, sua passagem pelo Brasil, onde se formou em economia por uma universidade privada e sua volta à polônia socialista.
A volta à Polônia levou Sachs a ser enviado à Índia, atuando junto ao serviço diplomático. Isso o tornou um admirador (com ressalvas) de Mahatma Gandhi e de Nehru. Mas, no final dos anos 1960, diante de uma onda de antissemitismo embalada por uma parcela do Partido Comunista em disputa pelo poder, Sachs se viu obrigado ao auto-exílio.
Depois desse auto-exílio, ele fortaleceu suas ligações com órgãos internacionais e tornou-se professor da Escola de Altos-Estudos em Ciências Sociais, de Paris, onde vive desde 1968. Atualmente, é codiretor do Centro de Pesquisas sobre o Brasil Contemporâneo. Sachs defende uma política de desenvolvimento que alie preocupação social, atenção com o meio ambiente e viabilidade econômica. A palavra planejamento é fundamental neste jogo.
Sua experiência na Polônia o faz diferenciar o planejamento soviético, do que ajudou a desenvolver, com grandes economistas, no seu país natal (hoje, Sachs é cidadão francês). Para ele, a história do planejamento econômico merece ser recontada, aproveitando as experiências que Ocidente e países da esfera soviética conheceram.
(Por Haroldo Ceravolo Sereza, UOL, 22/11/2009)