Código de barras de DNA deve ajudar a reduzir a comercialização de produtos ilegais que, só em 2008, movimentou entre US$ 5 a 8 bilhões no mundo todo
O comércio ilegal de carne e produtos manufaturados de animais silvestres tem crescido terrivelmente nos últimos anos, graças à grande demanda, aos lucros desmedidos, à falta de fiscalização e à pena mínima aplicada a criminosos presos traficando esse tipo material. Um dos maiores desafios no combate ao tráfico de carne de animais silvestres é identificar a origem da carne e dos demais produtos. Uma vez que o animal é retalhado, sua carne e couro perdem a individualidade e se parecem com carne e couro de outros animais. Fica difícil saber se a carne é de uma espécie protegida por lei nacional ou internacional.
Uma técnica chamada código de barras de DNA pode ser a resposta. De acordo com artigo publicado na edição on-line da Conservation Genetics, esses códigos podem ser usados para distinguir rápida e inequivocamente a origem da carne ou do couro de várias espécies raras e ameaçadas.
Em vez de analisar o perfil genético completo da matéria orgânica, os autores usaram o código de barras de DNA para observar uma região curta do gene mitocondrial da subunidade 1 citocromo C (COX1). O DNA seria então identificado em um laboratório, a um custo baixo, já que apenas o gene COX1 precisa ser processado.
Os pesquisadores, na realidade, não examinaram nenhuma espécie ameaçada, mas sequenciaram a região do código de barras de 25 mamíferos e répteis facilmente comercializáveis, a maioria embargada pela Convenção para Comércio Internacional de Espécies Ameaçadas da Fauna e Flora Silvestres (CITES, na sigla em inglês).
“Em nosso estudo, as espécies estão dentre as mais procuradas comercialmente na América do Sul e na África”, declarou o autor principal do trabalho, Mitchell Eaton. “Em geral elas são parcialmente preparadas no momento de serem levadas aos mercados urbanos, o que pode tornar sua identificação impossível”.
As espécies examinadas vieram da América do Sul e da África, e incluíam antílopes de pequeno porte, antílopes de chifre curvo, porcos selvagens vermelhos, macacos do velho mundo e crocodilos. As sequências de DNA geradas por esse estudo serão incluídas no Barcode of Life Data Systems, uma base de dados de códigos de barras de acesso livre on-line.
Embora muitas das amostras testadas tenham se degradado durante o processo de curtimento do couro ou por envelhecimento, os pesquisadores descobriram que ainda conseguiam extrair a sequência do COX1 na maioria dos casos. Os autores do estudo concluíram que com pouco esforço e refinamentos simples nos procedimentos de extração de DNA e da reação em cadeia da polimerase (PCR), “dados precisos de sequenciamento do código de barras podem ser obtidos para a maioria dos produtos rastreados por programas de monitoramento de carne silvestre e de investigação de vida selvagem”.
“Há um consenso quanto a usar o mesmo fragmento do DNA, o COX1, para construir uma biblioteca da vida”, informou o coautor da pesquisa, George Amato, diretor do Instituto Sackler de Genômica Comparada, do Museu Nacional de História Natural. “Esse é um exemplo de como a nova tecnologia genética pode transformar a sociedade, usando os códigos de barras para catalogar a diversidade de ecossistemas, monitorar espécies invasoras, procurar agentes patogênicos em alimentos, e fiscalizar o tráfico de animais selvagens vendidos como animais de estimação, entre outras finalidades.”
Essa não é a primeira vez que o DNA é usado para ajudar a identificar produtos ilegais provenientes de animais silvestres. No ano passado, Samuel Wasser, do Centro Americano de Preservação Biológica, introduziu um método genético para rastrear a origem de marfim contrabandeado. No início deste ano, uma pesquisa publicada no Proceedings of the National Academy of Sciences recomendou uma série de normas para os códigos de barras de plantas.
(Por John Platt, Scientific American Brasil, 24/11/2009)