Projeções até 2100 mostram que aquecimento faria chover menos e vazão dos rios cairia
Os efeitos das mudanças climáticas seriam bastante sentidos no sistema hídrico brasileiro, com impactos diretos no abastecimento de água, na agricultura e geração de energia elétrica nas principais regiões hidrográficas brasileiras. "Os estudos indicam que praticamente em todas as bacias a tendência é de diminuição das vazões dos rios", afirma Israel Klabin, presidente da Fundação Brasileira para o Desenvolvimento Sustentável (FBDS), entidade que coordenou o estudo sobre os impactos das mudanças climáticas nas bacias hidrográficas.
O estudo levou em consideração dados anuais de vazão das grandes bacias hidrográficas (Tocantins, Amazonas, Paraná, Paraguai, São Francisco, Parnaíba e Atlântico Nordeste Ocidental) e a região que inclui as bacias do Uruguai e Atlântico Sul. Foram traçados perspectivas até 2100, com base nos cenários do Painel Intergovernamental de Mudanças Climáticas (IPCC) - um "otimista", que prevê aumento da temperatura de 1,4°C a 3,8°C e outro "pessimista" que considera aumento de 2°C a 5,4 °C, até 2050.
No Nordeste, as chuvas diminuiriam até 2 a 2,5 mm/dia em 2100, causando perdas agrícolas e afetando a vazão dos rios em bacias importantes como São Francisco e Parnaíba. O Rio São Francisco seria um dos mais afetados. As médias dos modelos indicam para o cenário mais otimista uma diminuição progressiva de 27% para o período de 2011 a 2040, 43% para o período 2041 a 2070 e 57% no período de 2071 a 2100. Para o cenário mais pessimista, nos mesmos períodos as diminuições foram para 28%, 54% e 70%, respectivamente.
Também no Nordeste, a bacia do Rio Parnaíba, que banha Piauí e Maranhão, sofreria uma diminuição na vazão das águas de até 44%, para o cenário mais otimista, e até 90%, para um horizonte mais pessimista, entre 2071 e 2100.
Para a bacia do Rio Amazonas dentro do território brasileiro é esperada uma redução de vazão entre 20% a 30% no período de 2071 a 2100. Impacto semelhante seria sentido na bacia do Rio Paraná, que abriga a hidrelétrica de Itaipu e pode perder até 53% da vazão, até 2100.
O impacto da mudança climática no sistema hídrico deve afetar em cheio a geração de energia das hidrelétricas: é esperada uma redução na oferta de energia de até 31,5%. "Uma hidrelétrica produz, em metade de sua potência instalada, a chamada energia firme. Com menos vazão nos rios, faz sentido uma queda na produção da ordem de 30%", diz o físico José Goldemberg, da Universidade de São Paulo (USP).
Para José Machado, diretor presidente da Agência Nacional de Águas (ANA), será necessário tempo para que se avalie como adaptar as bacias às mudanças climáticas. "O mais importante para estar à altura da mitigação do problema é o fortalecimento da gestão e estrutura dos recursos hídricos."
(Por Andrea Vialli, com colaboração de Diana Dantas e Carolina Stanisci, O Estado de S. Paulo, 25/11/2009)