Apesar da suposta política de responsabilidade social, as transnacionais espanholas do setor turístico adotam, na América Latina, práticas bastante antigas de exploração econômica e socioambiental. A análise é do Greenpeace-Espanha, que nesta segunda (23/11) divulgou o informe "Os novos conquistadores. Multinacionais espanholas na América Latina".
"As empresas espanholas têm se caracterizado por responder com pouquíssimas ou nulas modificações o modelo empresarial que já se conhecia aqui, ou seja, de sol e praia massiva, que da exploração no Mediterrâneo e [ilhas] Canárias tem passado a reproduzir em localidades virgens da América, especialmente do Caribe", considerou o Greenpeace.
Das 100 maiores empresas de turismo do mundo, 11 são espanholas, mostra o estudo. De 1993 até 1999, o número de hotéis espanhóis em outros países triplicou. Atualmente, já são 29 os grupos espanhóis ligados ao turismo com presença em 36 países. Na América Latina, transnacionais espanholas exercem a atividade turística - responsável por 11% do PIB (Produto Interno Bruto) mundial - de modo predatório, analisou o Greenpeace.
O organismo destacou as atividades da "Sol Meliá" (15ª no ranking mundial), da "Barceló" (24ª) e da "Riu" (27ª), empresas identificadas "como agentes exportadores de um modelo depredador que arrasa bosques de mangues e territórios virgens, especialmente no México". O Greenpeace criticou a "extremada política de hipócrita Responsabilidade Social Corporativa" da Sol Meliá. Este ano, a empresa lançou um Plano Estratégico de Desenvolvimento Sustentável 2008-2010, que pretende "integrar os valores de sustentabilidade no próprio negócio".
México: maior destino das transnacionais
É no México onde a situação se mostra mais crítica quanto à exploração empresarial espanhola. Há, no país, mais de 2.700 empresas de origem hispânica, estimuladas pelas condições oferecidas pelo governo local e nacional, pelos baixos custos de seguridade social e da mão de obra barata e, em parte, pouco organizada.
Somente no principal destino das empresas turísticas - na região de Riviera Maya, no Estado de Quintana Roo -, estão presentes as transnacionais a Sol Meliá, a Iberostar, a Riu, a Barceló e a NH. Em 2007, havia na região cerca de 35 mil hospedagens em mais de 100 hotéis, enquanto que, em 2001, eram 15 mil.
Como exemplo, o informe aponta a construção de complexos hoteleiros da Sol Meliá nas praias de X’cacel e X’cacelito, no Estado de Quinta Roo. Os projetos só foram suspensos Secretaria de Meio Ambiente e Recursos Naturais (Semarnat) após a pressão de movimentos ambientalistas nacionais. Praticamente todas as zonas de mangue da Costa Turquesa foram devastadas, lamenta o estudo.
Recomendações
Para o Greenpeace, as empresas espanholas não deveriam adotar duplo padrão: "atuar de acordo com a normativa mais estrita em matéria social ou meioambiental, seja esta a lei de seu país de origem ou a do país onde opera". Quando vinculadas a atividades extrativas, elas devem responder pelos custos dos impactos socioambientais e participar de consultas com as comunidades locais, principalmente as indígenas.
O Greenpeace ainda recomendou ao governo espanhol que estabeleça mecanismos legais em casos de atuações ilícitas de transnacionais do país no exterior. O organismo também propõe que o Estado exija responsabilidade das empresas no processo de internacionalização, considerando a realidade social e econômica do país que receberá a transnacional.
O relatório do Greenpeace-Espanha avalia o impacto, na América Latina, de transnacionais espanholas de várias áreas, como o turismo, a mineração, o setor financeiro e petrolífero. O documento completo está disponível aqui.
(Por Robson Braga, Adital, 24/11/2009)