Ele explica os principais equívocos cometidos pela mídia sobre as mudanças climáticas
Os oceanos vão subir a ponto de cobrir o Cristo Redentor? O aquecimento global é provocado pelas mudanças climáticas? Essas e outras dúvidas geralmente lançadas pela imprensa foram elucidadas pelo glaciólogo Jefferson Cardia Simões, que fez a palestra Clima e Aquecimento Global, na abertura do Congresso de Biólogos do CRBio 03, no dia 13 de novembro.
O primeiro glaciologista brasileiro, que coordenou recentemente a expedição Deserto de Cristal, a primeira ação brasileira dentro do continente antártico, destacou que a atmosfera tem uma série de filtros, um sistema com gases transparentes, que permitem a entrada e a saída de radiação solar. Parte dessa radiação tem dificuldade de sair, devido, por exemplo, aos gases do efeito estufa, este alías é um fenômeno natural. Sem ele a temperatura do planeta seria 16 graus mais baixa.
“É errado dizer que o efeito estufa está causando mudanças climáticas”, salientou o cientista. O problema é que com a excessiva emissão de dióxido de carbono (CO2), metano (CH4) pelo homem, entre outros gases na atmosfera, a Terra está aumentando a temperatura da sua superfície. As mudanças climáticas são decorrentes da intensificação artificial do efeito estufa.
O Protocolo de Kyoto trata justamente do controle de emissões de gases, como o CO2 e o CH4, e outros como os hidrofluorcarbonos (HFCs), perfluocarbonos (PFCs) e hexafluoreto de enxofre (SF6). E tudo isso está em jogo na COP 15, na Convenção do Clima que será realizada em dezembro próximo em Copenhagen, Dinamarca.
“E também não confundam buraco da camada de ozônio com processo efeito estufa”, comenta o professor. Para ele, a confusão se deve porque há gases que acentuam o efeito estufa que são os mesmos que provocam o rombo na camada de ozônio.
O gelo não mente
O professor da Ufrgs e coordenador do Programa Antártico Brasileiro (Proantar) garante: o gelo não mente. A temperatura do Planeta está aumentando. Ele explicou que através da análise de um testemunho de gelo (cilindro), da precipitação de neve pode-se conferir as variações e mudanças na composição química da atmosfera.
Na palestra, Simões disse que a Criosfera, a camada de gelo sobre a Terra, compreende 10 % da superfície terrestre. Entre os tipos de gelo existentes, existem os que são feitos de cristais de neve, que carregam a composição química da atmosfera nos espaços entre os cristais. E aí ficam bolhas de gás do momento da precipitação.
“Esse é o melhor arquivo natural da história do meio ambiente”, sentenciou. Quanto mais profundo, mais se entra no passado. O pesquisador disse que depois de retirado esse gelo, são analisados mais de 50 parâmetros, incluindo elementos radioativos.
Hoje pode-se voltar 800 mil anos através da análise do gelo. Relaciona-se 28 idades do gelo naturais, informa. E adverte: se não forem reduzidas as emissões de gases de efeito estufa, principalmente CO2, em 2100 esses gases terão triplicado. Isso poderá aumentar uma média de 8 graus em 140 anos. E lembrou aos céticos: “os últimos 10 anos foram os mais quente desde os registros do século 17”.
Estátuas submersas
Outro mito desvendado por Simões foi sobre o descongelamento do gelo dos pólos. “É bobagem dizer que as calotas polares estão derretendo e que isso vai provocar o aumento do nível do mar, isso é um absurdo físico”. Os blocos de gelo que estão flutuando não afetam o nível do mar. Ele reconhece que realmente se perdeu mais de 50% do mar congelado no Ártico, mais rápido que se previa, mas essa energia está sendo absorvida pelo oceano, que está sendo aquecido.
“Concordo com a defesa dos ursos”, justifica, só que isso é um erro básico cometido principalmente pela mídia. De fato, quanto mais fino fica o gelo, mais espécies migram para outras áreas. “Mas isso não significa que se todo gelo derretesse, não taparia a Estátua da Liberdade”, alfineta, citando exemplos de filmes e capas de revista.
Simões explica que o gelo que está derretendo é o dos Continentes, locais como o Sul Groelândia e os Andes. “Esse gelo sim vai contribuir com aumento do nível dos oceanos”. A previsão é que suba uma média de um metro, um metro e meio, ao longo de 100 anos, alerta o cientista.
Impacto na Planície Costeira
Muito pouco se sabe do que essas previsões vão acarretar no Rio Grande do Sul. As conseqüências do aumento do nível dos oceanos na Planície Costeira, região mais baixa do Estado e que inclui parte da Região Metropolitana de Porto Alegre, são incertas. Não há pesquisas sobre esse assunto em andamento.
O que se sabe, segundo Simões, é que a temperatura de 1961 a 2006, no Rio Grande do Sul, já teve um aumento de meio grau. Provavelmente uma das consequências do agravamento do aquecimento global é também o aumento de precipitação em determinadas regiões.
(CRBio03/EcoAgência, 24/11/2009)