Banco Mundial estima que em 2030 país emitirá 1,697 bilhão de toneladas; projeção do governo fala em 2,7 bilhões em 2020. Número foi usado no cálculo da meta voluntária que país levará a conferência do clima e implica em esforço menor de corte de emissões
Estudo do Banco Mundial a que a Folha teve acesso estima em US$ 21 bilhões - cerca de R$ 38 bilhões- por ano o custo para o Brasil reduzir em 21% as emissões de gases-estufa até 2030. O valor é pouco menor (17%) que todo o investimento público previsto com dinheiro dos impostos para 2010 no Orçamento da União.
Embora a economista-chefe de Desenvolvimento Sustentável do banco, Marianne Fay, tenha classificado nesta segunda (23/11) de "ambicioso" o compromisso de redução das emissões de carbono apresentado pelo governo brasileiro há duas semanas, há divergências entre os cenários apresentados pela instituição e pela equipe do presidente Luiz Inácio Lula da Silva.
Enquanto o governo prevê que o país esteja lançando na atmosfera 2,7 bilhões de toneladas de gás carbônico em 2020 se nada for feito, o banco projeta a emissão total nesse mesmo cenário em apenas 1,697 bilhão de toneladas em 2030. Com os investimentos na economia de baixo carbono, o Banco Mundial indica que as emissões poderiam ser reduzidas de 1,259 bilhão de toneladas de gás carbônico, segundo estimativa feita para 2030, para 810 milhões em 2030. "Provavelmente, eles consideraram um cenário diferente.
Partimos de um cenário futuro mais pessimista, caso a economia crescesse sem considerar nenhum esforço para a redução das emissões", disse Suzana Kahn, secretária de Mudanças Climáticas do Ministério do Meio Ambiente. Ela participou da definição da meta de redução entre 36,1% e 38,9% das emissões brasileiras em relação à projeção feita para 2020. O governo não dispõe de cálculo oficial atualizado das emissões de gás carbônico.
"O governo inflou as estimativas de emissão para os setores de transporte e energia", criticou Roberto Smeraldi, diretor da ONG Amigos da Terra Amazônia Brasileira. Feito com o apoio de representantes de vários ministérios e centros de pesquisa do país, o estudo do Banco Mundial considera cenários diferentes daqueles apresentados pelo governo. A divergência significa que o esforço acenado pelo governo para reduzir as emissões pode ser menor do que o previsto na meta "voluntária".
Embora sem comentar diretamente o relatório a que a Folha teve acesso -e que o Banco Mundial só deverá divulgar em dezembro ou janeiro-, Marianne Fay insistiu em que o corte de emissões no Brasil não significará redução no ritmo de crescimento da economia. Ao contrário: o documento estima que os investimentos no baixo carbono poderão representar um aumento de 0,5% por ano no PIB, além de um crescimento extra anual de 1,13% na geração de empregos.
Em linhas gerais, a receita contida no estudo diverge pouco das propostas em discussão até aqui no governo, a começar pelo impacto atribuído à redução do desmatamento, o aumento da produtividade do agronegócio e o plantio de árvores para a produção de carvão para a siderúrgicas. Algumas das maiores divergências estão na área de energia, influenciada pela ministra Dilma Rousseff (Casa Civil).
Enquanto o governo considerou a expansão das hidrelétricas na Amazônia como ações de mitigação, o Banco Mundial considerou-as parte do cenário tendencial. O banco também enfatiza ações de eficiência energética, especialmente na indústria. "São as únicas que se pagam", diz Smeraldi.
O documento defende ainda a recuperação das áreas de reserva legal, uma obrigação dos produtores rurais cujo descumprimento o presidente Lula concordou em deixar sem punição até 2011. O texto também critica a abertura de novas rodovias na Amazônia, num ataque indireto à pavimentação da rodovia BR-319.
(Por Marta Salomon, com colaboração de Claudio Angelo, Folha de S. Paulo, 24/11/2009)