Várias ONGs acusaram as multinacionais do setor de alimentos de tentar comprar milhões de hectares de terras de boa qualidade que pertencem a pequenos camponeses do Terceiro Mundo. A denúncia foi feita durante a Cúpula da FAO sobre a segurança alimentar em Roma. Quase 20 organizações de camponeses da América Latina e da África protestam desde segunda-feira (16/11) em frente à sede da Organização das Nações Unidas para a Agricultura e Alimentação (FAO) contra a compra em massa de terras por grandes empresas de agroalimentos. "Com a cumplicidade, inclusive, da FAO", denunciam.
"Quase 80% das pessoas que passam fome vivem em zonas rurais; apesar disso, a FAO apoia as multinacionais, que encampam terras de pequenos produtores da Ásia, África e América Latina", destacou Henry Saragih, coordenador do movimento internacional antiglobalização, La Via Campesina.
Quase 400 delegados provenientes de 70 países participam de uma Cúpula paralela organizada em frente à FAO e autorizada pela entidade das Nações Unidas. Segundo as ONGs "Grain" e La Via Campesina, "alguns governos, como o da Arábia Saudita e Coreia do Sul pressionam essa forma de agir, como estratégia comercial.
"Mais de 100 bilhões de dólares estão em jogo e 40 milhões de hectares foram adquiridos, da Etiópia até a Indonésia", destacam. O líder líbio Muammar Kadhafi denunciou na FAO este "novo feudalismo", que se expande por toda a África, onde "investidores estrangeiros compram terras cultiváveis, transformando-os em novos latifúndios que devem ser combatidos", disse.
Para o ministro brasileiro do Desenvolvimento Agrário, Guilherme Cassel, "é preciso levar em conta a realidade de cada país". Ele lembrou que, no mês passado, um decreto limitou a "compra de terras por estrangeiros no Brasil".
Para a FAO, o setor privado é um "sócio chave" para aumentar a produção de alimentos, não somente do ponto de vista dos investimentos, mas pelo conhecimento, segundo o diretor da FAO, Jacques Diouf. As ONG criticam os gigantes do setor de agroalimentos, como a americana Monsanto, o aumento da produção de biocombustíveis (O Brasil é líder mundial de produção de etanol, junto com os EUA) e as novas tecnologias como os OGMs (transgênicos). "Com óleo de palma querem alimentar automóveis e não pessoas", lamentou Saragih.
Segundo a pesquisadora filipina Renée Vellve, da "Grain", a Cúpula contra a fome da FAO aborda o problema sem encontrar soluções. "Os chefes de Estado querem favorecer tanto os pequenos camponeses quanto as multinacionais, mas isso é mera ilusão. O controle de terras por estas empresas gigantes com a lógica de produzir em massa para exportação acaba afetando sempre os produtos locais", explicou.
(France Presse / Correio Braziliense, 17/11/2009)