As edições de sexta-feira (20/11) dos principais jornais comentam que o governo decidiu alterar a estratégia para o encontro da ONU sobre mudanças climáticas porque foi convencido de que a ex-ministra Marina Silva, relatora da Comissão de Meio Ambiente do Senado, iria propor transformar a manifestação de intenção para a redução de emissões de gases poluentes em compromisso legal e obrigatório.
A simples presença da senadora acreana entre os possíveis candidatos à sucessão do presidente Lula da Silva tem sido um elemento fundamental para que não apenas muitos políticos de repente se transformem em ecologistas, mas também se nota que a própria imprensa deixa de tratar a sustentabilidade como assunto marginal e se rende à evidência de que é, na verdade, o tema central em todos os debates atuais.
Em função desse fenômeno, o projeto de emenda à Política Nacional de Mudanças Climáticas já foi aprovado quinta-feira (19) na Comissão de Infraestrutura do Senado e deve seguir sua tramitação sem sobressaltos, pois nem mesmo a bancada ruralista, seguramente o núcleo mais obscuro do Congresso, terá coragem de se opor ao compromisso.
A representação brasileira deve chegar a Copenhague, em dezembro, na condição de líder dos países em desenvolvimento e portadora de iniciativas concretas para a redução das emissões de gases do efeito estufa, conforme destaca o Globo em entrevista. Trata-se de uma oportunidade histórica para o país, que também se destaca entre as nações que venceram mais rapidamente a crise financeira internacional.
Visão ampliada
Mais do que isso, porém, o tema sustentabilidade, que por enquanto ainda é tratado de forma simplista na questão ambiental, cria as condições para a superação de outros impasses. O mais importante e perigoso deles é a radicalização política que impede uma relação civilizada entre o atual governo e a oposição, com marcante participação de uma imprensa claramente partidarizada.
A irracionalidade que tem sido característica da imprensa e das relações políticas no Brasil nos últimos anos pode dar lugar a um diálogo proveitoso, se as partes se conscientizarem de que há muito mais riqueza nos debates sobre desenvolvimento sustentável do que nas atuais querelas que movem as opiniões.
Mas, para isso, a imprensa tem que se desarmar e ampliar sua visão para os grandes desafios e oportunidades que se abrem para o Brasil.
(Por Luciano Martins Costa, Observatório da Imprensa, 20/11/2009)