Enchente deixa os primeiros desabrigados. Chuvas provocam estragos em Cachoeira
A chuva constante dos últimos dias provocou a enchente do Rio Jacuí, que ontem invadiu várias residências ribeirinhas no Bairro Cristo Rei, desabrigando seis famílias, que foram removidas para a Fenarroz. Ontem à tarde, o rio estava com 23,25 metros, o que significa 5,25 metros acima do seu nível normal, medido na Barragem do Fandango. Além da cheia, a forte chuva alagou residências e deixou um rastro de destruição nos bairros de Cachoeira do Sul. Entre as 7h de sábado e às 7h de ontem, o pluviômetro da Companhia Docas do Maranhão, que controla a Fandango, registrou 69,4 milímetros de chuva em Cachoeira.
Para atender todos os desabrigados, a Defesa Civil foi acionada pelo secretário municipal de Trabalho e Ação Social, Neiron Viegas, reunindo dezenas de pessoas para ajudar no trabalho de retirada das pessoas que estavam ilhadas em casa. No Bairro Cristo Rei, os militares do 3º Batalhão de Engenharia de Combate fizeram a mudança de famílias para a Fenarroz, trabalho que teve a ajuda de escoteiros Ibiraiaras, voluntários da Associação Cachoeirense de Canoagem e Ecologia, além de servidores da Prefeitura. O Exército chegou a usar botes na operação, pois o acesso a algumas localidades é possível somente com barco, como ocorre no Passo do Seringa. “A situação não é de emergência, mas de calamidade pública. Pessoas estão com suas casas dentro da água, misturadas ao lixo. É um caos”, salienta o secretário Neiron.
Dentre as casas atingidas pela cheia do Rio Jacuí, está a do aposentado Alberi Lopes Rodrigues, 66 anos, que mora perto do campo do Beira-rio. Ontem à tarde, ao tomar o seu chimarrão, Rodrigues acompanhou o trabalho da Defesa Civil. “Estou há 40 anos aqui. Há três anos a água não vinha aqui”, observa Rodrigues. Com a esposa Ivonir Figueiró e a filha Renata, ele foi para o abrigo na Fenarroz. No entanto, não eram apenas os móveis que a família levaria. “Vamos levar junto os bichos. São quatro porcos, duas vacas de leite e três cavalos. Temos que levar tudo”, frisou Rodrigues.
“PROBLEMA É A VOLTA” - No pavilhão da Fenarroz está também a família da dona-de-casa Claudete Figueiró Rodrigues, 37, outra cachoeirense acostumada a enfrentar a cheia do Jacuí. Ela e o esposo Everaldo Rodrigues, junto com os dois filhos adolescentes, Tiarles e Eloi, se prepararam para deixar a casa ainda na madrugada de ontem. “Sair não é o problema. O problema é quando a gente volta, pois nada presta e a casa fica com cheiro de peixe podre. É preciso semanas de sol para poder lavar tudo”, comenta Claudete. A tendência é que o rio continue subindo dos próximos dias, o que não depende de chuva. Além das seis famílias levadas para a Fenarroz, outras 15 não estariam podendo entrar em casa devido à enchente. Estas famílias estão na casa de parentes.
(Por Robson Neves, Jornal do Povo, 23/11/2009)