A catástrofe que começou no dia 22 de novembro do ano passado em Santa Catarina e que deixou 137 mortos teima em não passar para milhares de famílias catarinenses. Exato um ano depois, ainda há 9.600 pessoas desabrigadas e outras 14.400 desalojadas – que vivem de favor na casa de amigos ou em abrigos públicos em condições longe de serem as ideais. E ainda há duas pessoas que nunca foram encontradas pelas equipes de salvamento, uma espécie de símbolo de uma tragédia que ainda não teve uma conclusão.
A lama secou, o mato cresceu, as câmeras de TV se foram e o comércio retomou suas atividades. Mas o dinheiro do governo federal para a reconstrução das residências ainda não é visto em Santa Catarina. Apenas cerca de 200 casas foram erguidas, a maioria em Blumenau.
As famílias de Larissa Schawanbach, de 11 meses, e de Erna Cypriano, de 79, ainda não puderem nem mesmo fazer um funeral e enterrá-las, uma vez que os bombeiros abandonaram as buscas sem encontrar os corpos. Quando voltei a Santa Catarina há cerca de seis meses para reencontrar os personagens que fizeram parte da tragédia de novembro do ano passado, percebi que isso obviamente não impediu que o trabalho continuasse a ser feito por voluntários, vizinhos e parentes, uma procura doída pelos entes queridos.
“Tudo o que queremos é fazer um funeral”, disse Adelírio Cypriano, que, além da mãe, Erna, também perdeu o padrasto. “É um aperto no coração muito grande”, completa Juliano Martendal, que frequentemente aluga um trator, coloca garrafas de água e sanduíches dentro de uma mochila das Chiquititas que pertenceu à sua filha Larissa e ruma até o local do soterramento para procurar pelo corpo da menina. “Preciso encontrar nem que seja só um ossinho para poder ter descanso.”
(Por Rodrigo Brancatelli, Estadao.com.br, 22/11/2009)