Três minutos da tarde de quinta-feira (19/11) vão continuar repercutindo por anos e anos na memória de Tramandaí. Município atingido com maior violência na região mais assolada pelo vendaval destruidor – o Litoral Norte–, a cidade vergou sob rajadas de assombrosos 132,4 km/h.
Ontem, os três minutos seguiam onipresentes em cada rua do balneário, à vista de todos, na forma de 9 mil imóveis avariados, 80 pessoas feridas, incontáveis árvores e postes arrancados e uma população ainda em sobressalto.
A devastação desabou sobre a área central da cidade às 13h25min. Os alunos que escutavam uma lição sobre ideologia em uma sala no segundo pavimento do Instituto Estadual de Educação Barão de Tramandaí tiveram de se preocupar com uma questão mais urgente. O vento estava arrancando o telhado. Em instantes, o cenário era o de uma área bombardeada.
– As nuvens escuras cobriram Tramandaí. Começou a ventar forte. Tudo balançava. Minhas alunas desceram para outra sala para se proteger. Então vi o teto se abrir – recorda o professor, Roberto Azevedo.
Com o peso de atender os feridos, o único hospital da cidade, o da Ulbra, teve de cuidar das próprias chagas. Uma ala inteira foi destelhada. Os funcionários tiveram de remanejar 12 pacientes para outros leitos. De acordo com o secretario municipal da Saúde, Carlos Bauermann, seis dos nove postos de saúde espalhados pelo município foram afetados. Apesar dos problemas, a rede de saúde socorreu 80 pessoas nas horas seguintes à tempestade, a maioria atingida por telhas que voaram do alto de casas e prédios.
A Justiça também ficou em frangalhos: dois prédios do Fórum sofreram danos graves. No sentido Sul-Norte, as rajadas transportaram as telhas de cerâmica de um edifício para o teto do outro. Eles estão localizados a 20 metros de distância um do outro. O expediente, que estava prestes a se iniciar, ficou em suspenso. Cinquenta pessoas se aglomeraram no saguão em busca de socorro. Viveram momentos de pavor.
Prefeito convoca veranistas a verem suas casas
Acionada para socorrer, a própria Brigada Militar ficou desabrigada. Teve de transferir as operações para o município vizinho de Imbé devido às avarias provocadas pelo vento. Ao se desprender do prédio e voar pelos ares, parte do telhado da corporação atingiu viaturas estacionadas no pátio. Diversas salas ficaram descobertas e inundadas pela chuva que sucedeu o vendaval. Os monitores que exibem imagens captadas pelas câmeras de monitoramento das ruas pararam de funcionar. Na beira-mar, pelo menos dois quiosques perderam a cobertura, levada por rajadas de mais de 130 km/h.
– Pessoas desesperadas começaram a ligar para cá enquanto também éramos atingidos. A prioridade é a comunidade – relata o soldado Eduardo Storti, 42 anos.
Alarmados pelas notícias da destruição, muitos gaúchos correram ontem, ansiosos, a Tramandaí e a municípios vizinhos, para conferir se suas casas de veraneio continuavam de pé. Alertado pela zeladora de que sua residência havia sido afetada pelo vendaval, o funcionário público João Manoel Dutra, 65 anos, deslocou-se de Porto Alegre para providenciar o reparo. O imóvel teve o telhado de cerâmica perfurado por cacos de telha lançados pelo vento de um prédio vizinho.
– Convoco os veranistas que têm casas aqui a virem neste fim de semana verificar os estragos. Há muitos telhados e vidros de sacada quebrados. Felizmente, a maioria dos danos foi de pequena monta nas casas e apartamentos, mas uma infiltração que se segue por 10 dias pode significar grande prejuízo – disse o prefeito Anderson Hoffmeister, que decretou situação de emergência.
A ajuda começou a chegar ontem. A Defesa Civil do Estado enviou 3,6 mil telhas, 500 cestas básicas e cem colchões. Não há desabrigados, mas dezenas de pessoas estão alojadas em casas de vizinhos e familiares.
(Por Maicon Bock, Zero Hora, 21/11/2009)