Cerca de 1 bilhão de pessoas passam fome diariamente em todo o mundo. Mais de 150 milhões de meninos e meninas passam fome ou são desnutridos. Outras 17 mil crianças perdem a vida por não terem o que comer. Dados oficiais como estes dão a dimensão do problema e do motivo de tanta expectativa com relação à Cúpula da Organização das Nações Unidas para a Agricultura e Alimentação, que tem fim nesta quarta (18/11), em Roma, Itália. Na avaliação geral de diversas organizações, a reunião acabou sem avanços concretos.
FIAN Internacional (sigla em inglês para Rede de Ação e Informação pelo Direito a se Alimentar), por exemplo, criticou, ontem (17), a declaração final da reunião, considerando que esta não apresentou nenhuma alternativa no combate à fome. "Nem o reconhecimento do direito à alimentação é novo, nem o é a decisão que tem que proporcionar a agricultura nos países do Sul", afirmou Flavio Valente, secretário-geral da FIAN.
A organização Oxfam Internacional também se manifestou hoje com uma avaliação sobre a Cúpula. Em um total de dez pontos, a organização deu nota dois às delegações presentes, pois considerou que não realizaram todos os trabalhos que tinham que fazer. "Este resultado não corresponde à dimensão do problema, que é tão grande quanto a cifra de bilhões de pessoas sofrendo desnutrição e que está piorando", afirmou José Hernández de Toro, porta-voz de Oxfam.
A organização pontuou a Cúpula a partir de cinco critérios, sendo que nenhum conseguiu aprovação. Segundo Oxfam, uma das principais medidas era reunir as diferentes iniciativas de luta contra a fome sob uma mesma ação de Organização das Nações Unidas (ONU). No entanto, a reunião só incentivou a reforma do Comitê de Segurança Alimentar (CSA), não sendo "capaz de reconhecer a capacidade de exigir dos países uma verdadeira rendição de contas ou de fazer seguimento de onde se investe o dinheiro".
Outro ponto avaliado pela organização foram os planos dos países em relação ao respeito do primeiro Objetivo de Desenvolvimento do Milênio (redução da fome à metade até o ano 2015). Segundo Oxfam, ONU afirmou que as cifras para o cumprimento de tal Objetivo poderiam chegar a 40 bilhões de dólares anuais, os quais apoiariam na produção, no transporte, na organização dos mercados para os pequenos produtores e na ajuda alimentar.
No entanto, as discussões não resultaram em compromissos precisos e efetivos. De acordo com a organização, os presentes na Cúpula não tiveram uma importante contribuição no assunto, só declararam "estar dispostos a aumentar a porcentagem da Ajuda Oficial ao Desenvolvimento (AOD) destinado à agricultura".
Oxfam destacou ainda a falta de apoio às políticas para os pequenos agricultores e agricultoras e a grande importância dedicada à biotecnologia e às novas tecnologias para a produção agrícola. "Esta Cúpula tinha que se centrar em aumentar o apoio aos métodos de cultivo sustentáveis que permitiriam aos campesinos e campesinas pobres alimentar suas famílias e aumentar sua renda. Que isto não se tenha produzido supõe seu pior fracasso", considerou Hernández.
Como último ponto, a organização avaliou a forma como a Cúpula discutiu a mudança climática, recebendo 15% de êxito. A justificativa foi a falta de interesse dos participantes em acordarem que no documento que será produzido na Conferência de Copenhague - em dezembro deste ano - deveria apresentar recursos para ajudar os pequenos agricultores a adaptarem-se à mudança climática. "Esta Cúpula simplesmente tem feito um chamamento para que os pequenos produtores sejam levados em conta, o que no melhor dos casos é insubstancial", afirmou o porta-voz da organização.
(Por Karol Assunção, Adital, 18/11/2009)