Com injeção de recursos do governo federal, Portais da Cidade modificaria a forma com a população usa o transporte coletivo
Diante da agonia do metrô de Porto Alegre – pelo menos nos próximos cinco anos –, a atenção dos moradores da Capital se volta ao Portais da Cidade. Ao receber apoio do governo federal com a liberação de recursos para obras complementares, o projeto da prefeitura ganha destaque e reacende o debate político.
Apresentado durante o primeiro mandato do prefeito José Fogaça (PMDB), o projeto prevê a construção de três grandes terminais, denominados portais. Pela proposta, os passageiros dos ônibus procedentes dos bairros e da Região Metropolitana desembarcarão nesses locais, onde tomarão ônibus articulados especiais para seguir viagem.
A intenção é reduzir o número de ônibus no Centro. De acordo com dados da Empresa Pública de Transporte e Circulação (EPTC), a ocupação dos veículos é de apenas 30% no destino, ou seja, 70% dos passageiros descem ao longo do trajeto. Com os portais, o objetivo é concentrar os passageiros em ônibus mais confortáveis, menos poluentes e com capacidade para transportar mais gente.
Na campanha eleitoral do ano passado, o projeto foi um dos principais temas de debate entre Fogaça e Maria do Rosário (PT). A deputada federal, que acabou derrotada nas urnas, apelidava a proposta de “baldeação”. Hoje, mantém as críticas ao projeto:
– É completamente baseado em ônibus, que, por mais que se invista, são veículos poluentes. O centro do projeto são as baldeações, o que já o faz nascer comprometido.
Conforme Maria do Rosário, a saída para o trânsito é estruturar o transporte coletivo, por meio da elaboração de um plano de mobilidade, reorganizando rotas e priorizando a integração com o trem. A deputada avalia que a administração municipal tratou de forma secundária o metrô, o que contribuiu para sua não inclusão no pacote de obras do PAC da Copa.
Transbordo exige mudança de cultura
O diretor-presidente da EPTC, Luiz Afonso Senna, rebate as críticas ao Portais da Cidade, justificando que a proposta é diferente de iniciativas de décadas anteriores. Segundo ele, no passado, as pessoas trocavam de ônibus em terminais mais próximos dos bairros. Nesses locais, seguiam viagem em ônibus pouco confortáveis, de mesmo tamanho e com intervalos de saída dos terminais maiores que os previstos atualmente. Especialista em trânsito, a engenheira civil Christine Nodari, pesquisadora do Laboratório de Sistemas de Transporte da UFRGS, analisa que tanto metrô quanto portais têm transbordo.
– A inovação dos portais é que a integração ocorre em minisshoppings, onde as pessoas podem comprar pão, colocar uma carta no correio, pagar uma conta – comenta a especialista.
Com custo estimado em US$ 210 milhões, o projeto será custeado pela prefeitura e pela iniciativa privada. Do total, US$ 100 milhões devem ser obtidos por meio de financiamento da Corporação Andina de Fomento (CAF) e o restante da iniciativa privada, que construiria os prédios dos portais em troca da exploração comercial dos espaços.
(Zero Hora, 19/11/2009)