Em uma reunião realizada ontem em Brasília, o governo federal comunicou ao prefeito da Capital, José Fogaça, que não haverá dinheiro para um dos projetos mais aguardados pelos gaúchos no pacotão de obras do Mundial.
Na tentativa de amealhar recursos para o metrô, uma promessa de duas décadas e sucessivos governos, a Trensurb chegou até a refazer o traçado da linha subterrânea, transferindo-a da saturada zona norte de Porto Alegre, por onde estava previsto que passasse desde os primeiros planos, para perto do Beira-Rio, estádio que receberá jogos da Copa. Associar a obra à Copa era visto como a forma de garantir o investimento. Depois viria a luta para estender os trilhos para as áreas mais populosas, solucionando problemas de trânsito.
O plano não funcionou. Em duas horas de reunião, os ministros das Cidades, Márcio Fortes, do Planejamento, Paulo Bernardo e dos Esportes, Orlando Silva, afirmaram que o cronograma de construção da linha da Copa era extenso e que a obra não ficaria pronta a tempo da realização dos jogos. Luis Antonio Lindau, professor do Centro de Transporte Sustentável do Brasil, concorda com o argumento da falta de tempo:
– Não tínhamos como implantar uma obra de bilhões em menos de quatro anos. Chegou a hora de cairmos na realidade.
A decisão dividiu especialistas. O engenheiro João Fortini Albano, professor de Transportes da UFRGS, observa que ao mudar o traçado, a Trensurb atropelou a lógica, transformando na primeira a que deveria ser a última etapa. Para a urbanista Maria Isabel Marocco Milanez, professora do Centro Universitário do Ritter dos Reis (Uniritter), pelo contrário, o importante seria garantir um metrô em Porto Alegre, que ela considera imprescindível para resolver os problemas de trânsito na Capital:
– Um metrô é feito por circuitos, parte por parte, nunca por inteiro, de uma vez só. É preciso começar por algum lado. Por mais que esse traçado do Mercado ao Beira-Rio não atenda quem mais precisa do metrô, ele dá início ao projeto. Seria uma forma de começar algo que precisa ser iniciado de uma vez. Perdemos mais uma oportunidade.
Governo criou um grupo para analisar linhas alternativas
O adiamento, como em ocasiões anteriores, veio acompanhado de promessas para o futuro. Agora, os ministros dizem que o projeto deverá ser incluído na segunda edição do Programa de Aceleração do Crescimento (PAC), previsto para ser lançado em abril de 2010. Além de justificar a decisão pela suposta falta de tempo para a conclusão da chamada Linha 2, Fortes considerou que o empreendimento beneficiaria poucas pessoas após o término da Copa – mostrando que a estratégia de aliar a Copa à linha tinha um mal de origem.
O governo criou um grupo de trabalho para avaliar alternativas que tornem viável a construção da Linha 2, com novos estudos sobre formas de financiamento e até mesmo o trajeto da expansão. O mais provável é que a linha se estenda em direção à Zona Norte, como previsto originalmente, percorrendo a Avenida Assis Brasil.
– Vamos discutir como fazer o metrô em Porto Alegre sem colocar isso como condição para fazer a Copa – disse Bernardo.
Durante a reunião em que fecharam o cofre para o metrô, obra de pelo menos R$ 2,5 bilhões, os ministros anunciaram verbas para o trânsito e para o novo sistema de ônibus, o Portais da Cidade. Pelo menos R$ 368 milhões serão destinados à construção de corredores, entre eles na Avenidas Tronco. A Beira-Rio será duplicada. O aeromóvel deve receber R$ 30 milhões, em uma linha entre o trensurb e o aeroporto Salgado Filho.
O quanto Porto Alegre perde por ficar sem metrô na Copa?
Comissões e mais comissões
- 1990 – Trensurb apresenta projeto de metrô em Porto Alegre com 13,3 quilômetros do Centro até o Porto Seco. Segundo a empresa, a obra é imprescindível porque o transporte no trecho está saturado.
- 1997 – Ministro dos Transportes, Eliseu Padilha, e o governador do Estado, Antônio Britto, lançam, em cerimônia no Palácio Piratini, o edital de concorrência internacional para as obras da chamada Linha 2 do metrô de Porto Alegre. O início dos trabalhos é anunciado para maio de 1998, e a conclusão dos 19 quilômetros para 2004. A obra ficou só na promessa
- 2001 – A prefeitura institui grupo de trabalho para acompanhar os estudos para a implantação de novas linhas de metrô na Capital.
- 2002 – A Trensurb apresenta a versão final do seu projeto de engenharia da Linha 2.
- 2003 – A Trensurb, a Metroplan e a EPTC iniciam trabalho conjunto para expansão do sistema metroviário em Porto Alegre.
- 2006 – O estudo de planejamento estratégico de Integração do Transporte Público Coletivo da Região Metropolitana de Porto Alegre é concluído e entregue ao ministro das Cidades, Marcio Fortes, ao governador do Estado, Germano Rigotto, e ao prefeito José Fogaça.
- 2009 – Com o projeto de traçado muito alterado, a Trensurb busca na Copa de 2014 a chance de buscar recursos federais para a obra do metrô. Como forma de convencimento, o metrô leva ao Estádio Beira-Rio.
(Por Viviane Cardoso, Zero Hora, 18/11/2009)